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Mais do que ser o maior escritor vivo do gênero terror e um dos autores mais populares do mundo, Stephen King deixou sua marca também como grande influência no mundo dos cinemas. Não apenas as adaptações de suas obras para as telonas ou em seriados demonstram como seu talento transborda das páginas escritas, sua influência é tamanha que revolucionou para sempre o gênero, e várias outras obras do terror moderno bebem da fonte de sua inesgotável imaginação. Um exemplo disso é a série Stranger Things, que reúne um grupo de crianças, dentre elas, uma com poderes paranormais, que se unem para enfrentar ameaças alheias à nossa realidade. Esses temas não são novidades para os fãs de King, que já reconhecem como histórias de amizades, crescimento, emancipação e superação de barreiras são tramas centrais contra monstros e fantasmas.
Dessa forma, este artigo reúne 10 das melhores adaptações de histórias de Stephen King. A lista demonstra apenas a opinião de seu autor, segundo seu próprio critério, sendo que não é definitiva e nem melhor que a sua própria lista de adaptações preferidas. Nessa lista, incluí as adaptações mais fiéis e que renderam bons filmes memoráveis.
10° – It (parte 1) – 2017
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Adaptar um livro de mais de mil e cem páginas e meia centena de personagens não é tarefa fácil, mesmo quando este é dividido em dois filmes. Mas Andy Muschietti fez um excelente trabalho (seguido de uma sequência de qualidade bem inferior) em adaptar a história do grupo de crianças que enfrenta a ameaça de uma criatura assassina e de origem desconhecida na pequena Derry. Ao contrário do livro, as aventuras da turma adulta ficou toda na segunda parte do filme, que ainda conta com cenas totalmente dispensáveis da turminha enquanto criança e que também ficou com a cruel responsabilidade de dar forma à história de origem de Pennywise. Apesar disso, o filme de 2017 é bem construído, com tempo de tela equilibrado entre todos os personagens, sem alívios cômicos forçados e constrangedores, e muito divertido, fazendo com que queiramos voltar a ser crianças novamente.
9° – Cujo (1983)
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Com uma ambientação pequena mas que ajuda na construção de um clima extremamente claustrofóbico, Cujo é um thriller de terror com um vilão um tanto inusitado: um enorme São Bernardo raivoso que faz de refém uma mãe e seu filho dentro de um carro num terreno isolado. A proposta parece fraca, mas a maquiagem (no cachorro) e a produção são de qualidade, o que contribui muito para a imersão na tensão do filme. Mais uma vez, King usa do artifício do terror gráfico e físico para fazer incursões psicológicas sobre problemas pessoais de seus personagens. Se você já assistiu ou pretende assistir o filme, saiba que no livro o final é muito mais trágico.
8° – A Hora da Zona Morta (1983)
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Um suspense sobrenatural que coloca Johnny Smith como portador de um ingrato dom que o põe em responsabilidade de decisões morais muito duvidosas. Após sofrer um acidente de carro e passar um tempo em coma, Johnny acorda com o poder de prever o futuro. Mas, como sabemos, grandes poderes trazem grandes responsabilidades e agora Johnny deve escolher entre intervir no desenrolar das coisas e dos destinos das pessoas, sabendo que isso pode colocar ainda mais pessoas em risco. O ponto alto do filme fica com a atuação do icônico Christopher Walken (Pulp Fiction, Click) que personifica o personagem com propriedade. Um clássico cult que serviu de modelo para várias histórias de “videntes”.
7° – O Nevoeiro (2007)
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Este filme chega a ser um estudo psicológico sobre a mente grupal em situações de vida ou morte. Presos num supermercado por uma densa neblina que encobre toda a cidade, David Drayton e seu filho, juntamente com vários outros cidadãos, se veem numa terrível situação de vida ou morte quando criaturas desconhecidas e bizarras começam a emergir da névoa. Um dos mais lovecraftianos filmes baseados num conto de King, este filme traz também um dos finais mais chocantes, além de deixar um sentimento de indignação e revolta durante todo seu desenvolvimento. O conto ainda rendeu uma série fracassada na Netflix, que exagera nas camadas de discussões e perde muito da essência de terror psicológico. Mais tarde em sua carreira, King usou novamente do artifício de estudo grupal no livro Sob a Redoma, onde toda uma cidade se encontra presa sob a prisão invisível e juntos precisam encontrar meios de sobreviver.
6° – Carrie (1976)
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Querido entre os fãs de King, Carrie (ou no Brasil, “Carrie A Estranha”) foi o primeiro livro oficialmente publicado por King em 1974 e teve sua primeira (e melhor) adaptação para as telonas em 1976 com Sissy Spacek interpretando a jovem Carrie. A história acompanha as traumáticas experiências da tímida adolescente Carrie, que, não bastasse a opressora e infernal criação católica, sofre um humilhante trote durante o baile. O que ninguém esperava era que Carrie era portadora de poderes telecinéticos, que lhe conferiam grande capacidade de vingança. A última adaptação do livro, de 2013 com Chloe Grace Moretz no papel da jovem, traz para dentro da trama os perigos do bullying através das ferramentas tecnológicas, ampliando o debate sobre o alcance não palpável e atemporal da violência nas redes. Apesar de ser uma boa adaptação, não bate o filme original, um dos primeiros a abordar o tema e muito angustiante, colocando as próprias relações humanas como produtoras de terror e sofrimento.
5° – Jogo Perigoso (2017)
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Mais uma vez numa ambientação claustrofóbica mas totalmente pertinente para se desenvolverem os mais terríveis sofrimentos psicológicos, Jogo Perigoso é um primoroso thriller psicológico que não irá sair da sua mente tão cedo. Com uma pegada à la Jogos Mortais, a protagonista Jessie Burlingame se vê presa por duas algemas numa cama logo após seu marido morrer repentinamente na sua frente no meio de uma brincadeira sexual, numa casa totalmente isolada e sem contato com outras pessoas. Mais uma vez King usa da incursão psicológica: sem sair do lugar, literalmente, Jessie enfrenta sinistros fantasmas de seu passado que parecem piores que sua terrível situação atual. O diretor Mike Flanagan mais tarde dirigiu a adaptação de Doutor Sono, um filme esquecível, sequência de O Iluminado. Jogo Perigoso está disponível na Netflix.
4° – À Espera de um Milagre (1999)
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Um clássico que você provavelmente já assistiu na Tela de Sucessos ou em outro programa da TV aberta, esse filme emocionante conta com a brilhante atuação de Tom Hanks, traz críticas afiadas sobre preconceito, mais uma vez sob um véu sobrenatural. John Coffey, um brutamonte humilde e negro é preso, acusado do assassinato de duas crianças, mas ninguem até agora provou seu crime. Simplesmente pela sua origem, passa a ser maltratado na prisão onde o carcereiro Paul Edgecomb (Hanks) tem a oportunidade de conhecer mais de perto a personalidade do amável Coffey. Um filme inesquecível e obrigatório para os amantes de cinema, nem parece uma adaptação de uma obra de King pela falta dos temas de terror ou de monstros, mas conta com a já conhecida riqueza de características e de personalidade dos personagens do Mestre.
3° – Conta Comigo (1986)
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Uma singela história de amizade e crescimento, na mesma pegada de It. Mais uma vez, você vai se esquecer de que está assistindo uma adaptação de King, que consegue tocar a criança que habita dentro de nós. A história foca na amizade de quatro crianças que, ao encontrarem o corpo de um homem desconhecido, tem suas vidas mudadas de maneira drástica e dramática. Esse filme é um clássico que trata sobre a necessidade de afeto e companheirismo (o que faz do filme um filme atemporal e muito relevante para nossos tempos) e de como podemos obter essas necessidades nas companhias mais inusitadas. Um sentimento de nostalgia instantâneo, capaz de comover os corações mais duros e frios.
2° – Louca Obsessão (1990)
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Personagens escritores são características típicas dos livros de King, onde o autor pode imprimir em sua criação características de sua própria vida, enriquecendo e dando característica de propriedade e intimidade para a trama. Nessa história angustiante, um famoso escritor é mantido refém por sua fã número um, uma mulher obsessiva e violenta, que o fará criar um final nada menos que perfeito para a sua série de romances favorita. Um dos melhores filmes de terror que já vi, graças a momentos de enorme tensão nas tentativas de Paul Sheldon de escapar de sua carcereira Annie Wilkes, interpretada pela brilhante Kathy Bates que levou um Oscar pelo papel. A adaptação é muito fiel ao livro, que, como já mencionado, traz uma metalinguagem e simbolismo sobre episódios de vício da vida do próprio King, impressos de maneira brilhante no escritor refém Paul Sheldon. Esse filme fará você roer as unhas!
1° – Um Sonho de Liberdade (1994)
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Esse filme que encabeça várias listas de melhores filmes de todos os tempos ou aparece no topo de filmes mais bem avaliados pela crítica de todos os tempos, é um filme sem nenhum elemento de terror, demonstrando como King é capaz de transitar entre diferentes gêneros com maestria. Na trama, Andy Dufresne, um banqueiro bem sucedido é condenado perpetuamente por um crime que não cometeu e deverá aprender a conviver dentro da mini sociedade que existe dentro da penitenciária de Shawshank, no Maine. Na sua luta para provar sua inocência e sobreviver às injustiças que lhe recaem, faz amizade com Ellis Redding (interpretado pelo brilhante Morgan Freeman), um prisioneiro que controla o mercado negro da instituição. Este filme é um clássico comovente que traz belas mensagens sobre valores e propósitos.
Bônus: O iluminado (1980)
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O clássico incontestável O Iluminado de Stanley Kubrick sem dúvida aparece como grande referência no gênero terror, com seus enquadramentos e técnicas inovadoras, típicas do diretor. Os fãs de Kubrick irão defender com unhas e dentes a obra, enquanto muitos fãs de King se posicionam contra a adaptação, que não é muito fiel ao livro 1977 (o próprio King reconhece isso e não cultiva afetos pelo filme). O desapontamento do escritor com a obra foi tão grande que 20 anos depois a ABC Studios lançou uma minissérie em três episódios muito mais fiel ao livro (mas muito menos bem sucedida), dessa vez com a bênção de King. É possível amar tanto o livro de King quanto à obra (mais inspirada que adaptada) de Kubrick, ambos são revolucionários em seu tempo e gênero, mas se for parar pra comparar, é melhor fazer vista grossa.