Em 31 de março de 1964 foi instaurada no Brasil uma ditadura oriunda de um golpe militar, um dos mais sombrios períodos da história nacional e que durou até 1985 (21 anos). Apesar de ter cunho militar, o golpe só foi possível graças a uma articulação envolvendo interesses específicos de latifundiários, empresariados e, não podemos esquecer, dos EUA. O processo todo se deu para barrar as Reformas de Base do então presidente Jango, beneficiando a elite econômica.
O período mais repressivo da Ditadura Militar aconteceu com a promulgação, em 13 de dezembro de 1968, do Ato Institucional n.°5 (AI5) que permitia aos governadores punir todos àqueles considerados “inimigos”. Essa permissão englobou desde sequestros, torturas, abuso sexual até mortes. Oficialmente, a ditadura fez somar 434 vítimas fatais (dados da Comissão Nacional da Verdade).
Esse período impulsionou e ainda impulsiona a produção cultural no país e deixou uma profunda marca tanto na música como no cinema que vai de Caetano Veloso à Glauber Rocha. Todas as obras são pela tentativa de ir contra a censura, lutando pela liberdade de expressão e por um regime democrático.
Por conta da importância de sempre avivar a memória, nós, do Geek Sapiens, separamos uma lista com 15 filmes para você conhecer um pouco mais deste período. Confira:
DESLEMBRO (2018)
“Dirigido por Flávia Castro, o filme Deslembro foca em demonstrar os efeitos da ditadura nas novas gerações e ressalta a importância da memória para que não se repitam os erros do passado, colocando em questão os desaparecimentos políticos ocorridos durante o período militar.
No longa, Joana é uma adolescente que mora em Paris com a família. Quando a anistia é decretada no Brasil, ela volta ao Rio de Janeiro, cidade onde nasceu e onde seu pai desapareceu nos porões do DOPS. Lá, memórias amargas de tempos difíceis vêm à tona, causando assim um forte desconforto e aflição.”
HISTÓRIAS QUE NOSSO CINEMA NÃO CONTAVA (2017)
“Histórias Que Nosso Cinema Não Contava, dirigido por Fernanda Pessoa, é um documentário feito exclusivamente com imagens de arquivo do cinema nacional, particularmente da produção conhecida como Pornochanchada. No filme, a diretora busca resgatar um fragmento da história brasileira em muito esquecido ou apagado, justamente o período da ditadura militar.
O trabalho de construção do filme se pauta na descontextualização – e recontextualização – de trechos dessas obras que, ressignificadas, contam de forma crítica os anos da ditadura no Brasil. O resultado é um retrato da sociedade brasileira, um retrato que escancara o país que fomos – e que somos.”
TERRA EM TRANSE (1967)
“Em Terra em Transe Glauber Rocha, o maior nome do cinema brasileiro, constrói uma alegoria da conjuntura brasileira – e latino-americana – que resultou no Golpe Civil Militar de 1964. Na trama, o país fictício de Eldorado é palco de uma convulsão interna desencadeada pela incessante luta em busca do poder.
Na trama, o senador Porfírio Diaz (Paulo Autran) detesta seu povo e pretende tornar-se imperador de Eldorado, um país localizado na América do Sul. Porém existem diversos homens que querem este poder, que resolvem enfrentá-lo. Enquanto isso, o poeta e jornalista Paulo Martins (Jardel Filho), ao perceber as reais intenções de Diaz, muda de lado, abandonando seu antigo protetor.”
O DESAFIO (1965)
Filme completo:
“Dirigido por Paulo César Saraceni, O Desafio é a primeira resposta cinematográfica ao golpe militar. O longa retrata o estado de perplexidade que se tornou característico da intelectualidade brasileira após a mudança de regime que, nutrida de mitos e esperanças, entrou em uma fase de marasmo completamente sem perspectiva.
A trama narra narra o romance de Marcelo e Ada, um jornalista de esquerda em uma crise identitária e uma burguesa casada com um importante industrial. A relação entre os dois deixa claro que essas personagens são profundamente marcadas pelo seu meio e por suas classes, e que, portanto, uma conciliação seria impossível.”
PRÁ FRENTE BRASIL (1982)
“Nos anos 1970, época dos anos de chumbo e do milagre econômico da Ditadura Civil-Militar, o país divide-se em dois: de um lado, o público vibra com a seleção brasileira de futebol na Copa do Mundo, agora sediada no México; do outro, militantes e terroristas são torturados por agentes da repressão oficial – incluindo Jofro Godoi da Fonseca, que é encarcerado e torturado depois de ser confundido com um guerrilheiro de esquerdo.”
Dirigido por Roberto Farias.
O QUE É ISSO, COMPANHEIRO? (1997)
“O jornalista Fernando e seu amigo César abraçam a luta armada contra a ditadura militar no final da década de 60, após a publicação do AI-5. Os dois se alistam em um grupo guerrilheiro de esquerda e, em uma das ações do grupo militante, César é ferido e capturado pelos militares. Fernando então planeja o sequestro do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Burke Elbrick, para negociar a liberdade de César e de outros companheiros presos.”
Dirigido por Bruno Barreto.
O DIA QUE DUROU 21 ANOS (2013)
“Documentos secretos e gravações originais da época mostram a influência do governo dos Estados Unidos no Golpe de Estado no Brasil em 1964. O filme destaca a participação da CIA e da própria Casa Branca na ação militar que deu início a ditadura.”
Dirigido por Camilo Tavares.
QUE BOM TE VER VIVA (1989)
“O filme dirigido por Lucia Murat aborda a tortura durante o período de ditadura no Brasil. Unindo relatos documentais de oito ex-presas políticas e criações ficcionais interpretadas por Irene Ravache, a obra mostra como as vítimas sobreviveram e como encaram aqueles anos de violência duas décadas depois.
Mais do que descrever e enumerar as atrocidades praticadas pelos militares, o filme mostra o preço que essas mulheres pagaram, e ainda pagam, por terem sobrevivido lúcidas à experiência de tortura.”
SOLDADOS DO ARAGUAIA (2017)
“Entre 1972 e 1975, o Exército Brasileiro enviou milhares de soldados a selva amazônica para exterminar a Guerrilha do Araguaia. Quarenta anos mais tarde, os soldados que participaram do conflito contam as atrocidades da tortura sofrida: o tratamento dado a guerrilheiros e soldados quase não se distingue.”
Dirigido por Belisário Franca.
O BOM BURGUÊS (1979)
Trecho do filme:
“Para ajudar a luta revolucionária, o funcionário de um banco resolve desviar uma grande quantia de dinheiro do banco onde trabalha, o que acaba colocando sua vida em perigo.”
Dirigido por Oswaldo Caldeira.
JANGO (1984)
Filme completo:
“O filme refaz a trajetória política de João Goulart, o 24º presidente brasileiro, que foi deposto por um golpe militar nas primeiras horas de 1o de abril de 1964.”
Dirigido por Silvio Tendler.
MARIGHELLA (2019)
“Dirigido por Wagner Moura, o filme conta a história de Carlos Marighella, ex-deputado, poeta e guerrilheiro brasileiro assassinado pela ditadura militar em 1969. Marighella é uma adaptação da biografia do guerrilheiro escrita por Mário Magalhães, “Marighella – O Guerrilheiro Que Incendiou o Mundo”, e tem participação de Seu Jorge, Adriana Esteves, Bruno Gagliasso e Luiz Carlos Vasconcellos no elenco.”
CIDADE DE DEUS (2002)
“Clássico nacional dirigido por Fernando Meirelles, o filme retrata o crescimento do crime organizado na Cidade de Deus, uma favela que começou a ser construída nos anos 1960 e se tornou um dos lugares mais perigosos do Rio de Janeiro no começo dos anos 1980, enfatizando a crise social produzida pela modernização autoritária e excludente do governo militar.
Para contar a trajetória deste lugar o filme narra a vida de diversos personagens e eventos que se entrelaçam no decorrer da trama. Tudo pelo ponto de vista de Buscapé, o protagonista-narrador que cresceu nesse ambiente extremamente violento mas que encontra subsídios para não ser fisgado pela vida do crime.”
CABRA MARCADO PARA MORRER (1984)
Filme completo:
https://www.youtube.com/watch?v=I1xsafXt9PI
“Originalmente Cabra Marcado Para Morrer era um filme ficcional sobre João Pedro Teixeira, um líder camponês assassinado. Suas filmagens, entretanto, foram interrompidas pelo golpe militar de 1964 e só seriam retomadas na abertura do regime. O filme então transformou-se num documentário sobre o paradeiro atual das personagens originais, em especial Elizabeth Teixeira, esposa de João.
O tema principal do filme passa a ser a trajetória de cada um dos personagens após terem se separado pela onda de repressão. E, por meio de lembranças e imagens do passado, evocam o drama de uma família de camponeses durante os longos anos da ditadura.”
MANHÃ CINZENTA (1969)
“Baseado em um conto homônimo de Olney São Paulo, e dirigido pelo mesmo, o filme faz uma alegoria de regimes autoritários. Ambientando-se em um país fictício da América Latina, retrata um casal de estudantes que segue para uma passeata onde o rapaz, um militante, lidera um comício. Eles são presos, torturados na prisão e sofrem um inquérito absurdo dirigido por um robô e um cérebro eletrônico.
O projeto inicial era incluir mais duas histórias no filme, entretanto a película foi apreendida e censurada, e o projeto abandonado. Os negativos e cópias de Manhã cinzenta foram confiscados em 1969, mas duas cópias do filme ficaram guardadas por 25 anos na Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.”
Todas as sinopses foram retiradas do site Instituto de Cinema e Cine Pop.