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Crítica: 1899 – 1ª Temporada ★★★★☆ (2022)

(Reprodução)

Dos mesmos criadores de Dark, acaba de chegar na Netflix a série 1899. A produção segue uma linha parecida, uma proposta pra lá de maluca, cheia de mistérios e personagens que assim como nós, não estão entendendo nada do que está rolando. Admito que estava empolgado para o lançamento, e boa parte das minhas expectativas foram preenchidas. A série traz poucos elementos inovadores, se apoia no clichê, mas faz bem o dever de casa.

Nada como um bom mistério, cheio de intrigas e reviravoltas, para prender nossa atenção na telinha até o desfecho. 1899 utiliza bem esse recurso para nos manter conectados com o desenrolar da trama, fornecendo pequenas pistas para uma possível solução, sem entregar demais, nem de menos. A sensação de estranheza com aquilo que vai sendo apresentado é constante, e esse elemento foi muito bem aproveitado ao longo da temporada, deixando a trama bem mais envolvente.

A história é um pouco estranha, algo essencial para esse tipo de produção: a trama se passa no navio Kerberus, com uma tripulação de diversos países que buscam uma nova vida nos Estados Unidos da América, no final do século XIX. No meio da viagem pelo Atlântico, eles se deparam com o navio Prometheus, que havia desaparecido tempos atrás. Após esse encontro, diversos acontecimentos bizarros irão assombrar os tripulantes do Kerberus, com experiências perturbadoras, que os farão perder o senso entre realidade e loucura. A maneira como se desenrola a construção do mistério é muito envolvente, me vi completamente preso na trama, ansioso por descobrir o que estava por trás de todos os acontecimentos. Nesse ponto a produção da série acerta em cheio, além de também entregar uma história interessante, que tem seus eventos amarrados com maestria.

Não podemos deixar de citar que a escolha de elenco é outro ponto alto da série, que contribui em muito para a qualidade do trabalho desenvolvido. As atuações são bem imersivas, os personagens transpõe de forma muito convincente o drama que estão vivendo no navio. É interessante notar a maneira como acontece a dinâmica entre os personagens que passam a acreditar na realidade dos enventos e aqueles que buscam negar o que estão passando, que foi muito bem desenvolvida, passando uma reflexão acerca da construção da realidade muito boa baseada na caverna de Platão. Emily Beecham interpreta Maura Franklin, uma mulher com um passado misterioso, que envolve uma clínica psiquiátrica. Ela esta no navio em busca de seu irmão desaparecido, mas irá encontrar muito mais perguntas do que respostas ao longo da viagem.  A atriz entrega uma boa atuação, bem crível. Outro personagem igualmente misterioso é Daniel, vivido por Aneurin Barnard. Ele surge após o encontro com o Prometheus e passa a agir de uma forma suspeita ao longo dos episódios. Seu personagem é bem interessante e nos cativa com facilidade. Um nome já conhecido é Andreas Pietschmann, que vive o capitão Eyk Larsen, um homem assombrado por um passado sinistro do qual tenta escapar. Eyk se vê diante de um desafio e tanto: o que fazer com relação ao navio Prometheus? Esses são apenas alguns dos diversos personagens que surgem em tela. A qualidade das atuações é impressionante, todos conseguindo criar um clima de tensão muito imersivo.

Uma história misteriosa, cheia de reviravoltas, e um elenco que consegue atuar dentro dessa proposta com maestria, naturalmente que não posso dizer que não fiquei completamente vidrado nos episódios. Mas isso se dá também graças a excelente qualidade técnica da produção, que valoriza muito bem os cenários e os efeitos especiais que adota. Mesmo que haja algumas cenas que se repetem demais, como os momentos de pessoas andando em corredores e também descendo em alçapões, eu prefiro ver como parte da proposta da série, para nos fazer entrar de cabeça na vida dos personagens, completamente absorvidos pelos eventos sinistros do navio. A maneira como a série foi pensada é simplesmente incrível, diversas cenas são muito mais do que simples truques de edição, mas elas também carregam um certo peso do que a narrativa está tentando nos passar. A direção da série é sensível a isso e consegue conduzir de forma muito acertada o mistério da série, utilizando os elementos certos, na medida idela, para prender nossa atenção ao longo da temporada.

Admito que assistir 1899 me fez cogitar assistir as temporadas de Dark, para aplacar essa vontade de me perder em uma trama misteriosa e profunda. A série acerta em uma narrativa complexa mas acessível, que brinca com uma construção filosófica atualíssima como a Caverna de Platão, utilizando elementos imersivos e intrigantes. As atuações também encontram um caminho positivo para desenvolver os persoangens de forma crível, nos deixando intrigados com o destino final de cada tripulante do navio e o porquê de estarem ali. A direção da série faz um trabalho impecável, mesmo que haja alguns excessos, o saldo final é positivo. Para quem curte acompanhar um bom mistéiro, cheio de reviravoltas sem pé nem cabeça, essa série é perfeita.

A primeira temporada de 1899 está disponível na Netflix.

https://www.youtube.com/watch?v=hxGXPirkFGU

Sobre Carlos Valim

Apaixonado por cultura pop. Aprendendo a escrever críticas menos emocionadas. Professor de História e fundador do GS.

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