Baseada na obra do visionário escritor de ficção-científica William Gibson, Periféricos, nova série do Prime Video, dos mesmos criadores de Westworld, chegou ao fim de sua temporada inaugural recentemente. A série me prendeu logo no primeiro episódio, praticamente tudo é conceitual, feito com um enorme detalhismo, elaborando uma trama complexa e imersiva, que mexe com a nossa imaginação através dos seus elementos sci-fi.
Para desenvolver uma trama complexa, que prioriza certos detalhes na narrativa, é preciso criar espaços para que se torne possível. Com isso, a narrativa pode parecer um pouco massante no início, apresentando alguns elementos que parecem desnecessariamente complexos e sem ligação, principalmente para quem não é tão fã do gênero. Porém, após um certo tempo, é possível compreender de forma bem simples tudo que está acontecendo, e é aí que a série começa a impressionar e prender nossa atenção.
Na série, vamos acompanhar a vida de Flynne Fisher, que vive com seu irmão Burton e sua mãe, que está muito doente. O ano que se passa a história é 2032, o que faz desse um cenário bem legal de se imaginar, e neste mundo, as condições de vida já não são das melhores. O irmão de Flynne, além de ser um ex-militar de um grupo especial, ganha dinheiro jogando um jogo de realidade virtual e algumas vezes, Flynne também joga para ajudar Burton em certas missões, e em uma dessas, Flynne acaba vendo o que não devia, e se torna alvo de uma espécie de conspiração, que vai se revelando ao longo dos episódios. Isso tudo acontece por que Flynne na verdade estava testando um novo jogo VR que não só era hyperrealista, mas sim um tipo de dispositivo de presença que mandava a consciência do usuário para o futuro, em 2099. Lá o usuário assumia o controle do que é chamado de periférico, uma espécia de robô com as mesmas características de quem está no comando.
O ponto central da trama é intrigante, seu desenvolvimento também é muito bem realizado, o que talvez torne a experiência um pouco cansativa para alguns é a longa construção de diálogos entre os personagens, que as vezes parecem estar desviando da trama central, mas na verdade estão construindo um universo, dando ao telespectador mais detalhes para que tudo se encaixe de forma natural. Esse elemento é o que torna a série tão imersiva, pois ela nos força a contemplar diversos acontecimentos que estão sendo construídos ao longo que a trama principal se arrasta, empurrando todos esses pontos para o desfecho.
Em série de ficção-científica, tão importante quanto a narrativa imersiva, são os efeitos especiais, que irão trazer a construção visual da produção, onde é possível reproduzir as novidades futurísticas. Nesse ponto a série também faz um acerto e tanto. Com o contexto estabelecido em dois tempos, 2032 e 2099, é possível não só imaginar um futuro mais próximo, que pode reimaginar a viv|ência mais próxima do nosso dia a dia, como também vislumbrar um futuro fictício, onde o único limite é a própria imaginação. Então pode esperar por muitas “engenhocas” futurísticas como bikes reimaginadas, carros com camuflagem invisível, drones ultra tecnológicos de uso militar, robôs, dispositivos de realidade virtual avançados, entre outros.
Outra coisa que não pode faltar são boas doses de ação, e a série também faz um bom uso desse elemento. As cenas de ação estão sempre em sincronia com os acontecimetnos, nenhuma delas está lá apenas por estar. Elas fazem sentido com o desenrolar da narrativa e a complementam. Essas cenas de ação são boas, bem filmadas, e usam bem os elementos futuristas. Um dos combates que acontece logo no início da temporada, vemos o uso de uma tecnologia que permite que um grupo de militares se conectem entre si, para que possam enfrentar seus inimigos de forma extremamente letal, utilizando drones sofisticados para realizar seus movimentos. Essa cena apresenta bem a maneira como a série pretende trabalhar os seus conceitos.
Com uma boa narrativa, bem imersiva, e efeitos especiais na dose certa, era necessário um elenco para segurar essas pontas. Chloë Grace Moretz está muito bem como Flynne Fisher. A atriz consegue acertar o tom da personagem, e traz uma interpretação bem harmoniosa com a trama. Ajuda também a qualidade do roteiro e da direção, que sabiam que caminho tomar com a performance da atriz. Seu irmão Burton, vivido por Jack Reynor, também é um bom personagem, que foi bem interpretado. O personagem faz um contraponto interessante com Flynne, além de também desenvolver sua própria personalidade, junto de seu grupo de amigos. Gary Carr, que vive Wilf Netherton no futuro de 2099, é outro personagem interessante, que mesmo com o pouco tempo de tela, ganha a nossa atenção com seus interesses misteriosos de início. Já a interpretação de Lev Zubov, feita por JJ Feild, ficou muito caricata, com aquele ar de vilão com uma pegada meio russo mafioso. Pela posição que ele tem dentro da série, poderia ter sido melhor trabalhado.
Como ficção-científica, Periféricos é sem dúvidas um prato cheio, possuí todos os elementos essenciais para produções do gênero, e o melhor, faz bom uso deles, sem exageros. A narrativa é complexa de início, mas com o desenrolar da trama, os pontos vão se acertando e tudo vai ficando mais claro. As atuações são muito boas, há alguns casos aqui e ali, mas nada que tire a imersão dos persoangens e a maneira como eles se interligam com a trama central. Os efeitos especiais também são de ótima qualidade, algo extremamente importante para o gênero sci-fi. Temos um visual bem futurista, além de apresentar dois tipos de concepções diferentes, cada uma no seu tempo. Para os fãs de uma boa ficção-científica, a série sem dúvida não vai decepcionar. Mas também pode divertir os que não são fãs do gênero.
A primeira temporada completa você encontra no Prime Video.