[contém leves spoilers]
Cidade Invisível, Netflix
Não tem como não perceber que a série brasileira Cidade Invisível (2021) é sucesso mundial, mas o que, também, não tem como não ver é a falta de sutileza em copiar Deuses Americanos (2017 – presente).
Se você caiu de paraquedas no mundo e não conhece Deuses Americanos, vamos lá: Deuses Americanos é baseada na obra de Neil Gaiman, que conta como os deuses antigos, como Odin, Thor e outros deuses pagãos, estão tentando sobreviver no mundo moderno em uma guerra contra os novos deuses, os tais deuses americanos (que na verdade são só uns hábitos modernos). Na série e no livro, a história gira em torno de uma guerra entre deuses antigos e modernos e um personagem que é filho de um desses deuses (vou livrar vocês desse spoiler).
Shadow Moon, Ricky Whittle em Deuses Americanos
Bem resumidamente, Deuses Americanos é isso, e tem o Mad Sweeney que é o melhor personagem. Voltando ao assunto principal, em Deuses Americanos somos apresentado aos deuses antigos na abertura dos episódios, antes das cenas de abertura da série. Esse recurso foi usado muito na primeira temporada e nas outras temporadas foi minimizado, mas ainda era usado para mostrar o passado dos deuses – na maioria das vezes, essa cena era usada para contar como esse deus chegou aos Estados Unidos (a chegada do Mr. Nancy é emocionante). E esse mesmo tipo de cena foi usado em Cidade Invisível, nesse trecho do episódio, na abertura, nos contavam sobre o passado das criaturas do nosso folclore, numa espécie de flashback que mostrava como os personagens “viraram” criaturas do folclore (cai entre nós, a cena do Saci é muito angustiante).
Mesmo que não seja uma exclusividade de Deuses Americanos, Cidade Invisível se inspirou no modelo de abertura da série americana e fez muito bom uso desse recurso narrativo, vale lembrar que ambas as séries apresentam algumas semelhanças: os deuses antigos e as criaturas do folclore tentando sobreviver enquanto travam uma guerra (literal ou não) contra o mundo moderno, um protagonista que é filho de um deus/criatura do folclore com uma humana que se vê dentro de uma trama maior que ele, no bom e velho estilo do Chamado do Herói. Talvez as maiores diferenças são: em Deuses Americanos, os deuses buscam serem vistos pelo mundo e em Cidade Invisível, as criaturas tentam passar despercebidas; e em Cidade Invisível nós temos a cultura brasileira como foco principal da narrativa, enquanto em Deuses Americanos não é trabalhado a cultura estadunidense propriamente dita, mas sim a cultura de pessoas que migraram para os Estados Unidos (isso gera até uma cena bem estereotipada, o Jinm – que é uma criatura do folclore Árabe – é retratado nos E.U.A. como um taxista).
Jinm, Mousa Kraish em Deuses Americanos
Mesmo que inspirada em Deuses Americanos, a abertura e a série Cidade Invisível tem feito muito sucesso e é, sem dúvidas, uma das séries brasileiras mais promissoras que temos. Ainda com algumas coisas para melhorar e outras para explorar, Cidade Invisível está disponível na Netflix e ainda não se tem notícias de uma segunda temporada. E Deuses Americanos está na sua terceira temporada na Amazon Prime Video.