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Crítica | “Ainda Estou Aqui” ★★★★★

"Ainda Estou Aqui", dirigido por Walter Salles, aborda memória e resistência durante a ditadura militar.

O cinema brasileiro renasce com “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles. Após anos sem dirigir, Salles retorna com um filme que reafirma sua posição entre os grandes cineastas do país. Baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva, o longa revisita um dos períodos mais sombrios da nossa história: a ditadura militar. A trama acompanha a prisão do deputado Rubens Paiva pelos militares e os efeitos devastadores que isso provoca em sua família.

Com uma abordagem sensível e profunda, “Ainda Estou Aqui” não é apenas um retrato do passado, mas uma reflexão sobre como o trauma coletivo molda nossas vidas. Desde o início, o filme envolve o espectador, apresentando a rotina da família Paiva em uma casa à beira-mar, no Rio de Janeiro. Esse espaço, inicialmente um refúgio de conexão e arte, transforma-se em um lugar de desconexão e dor após o sequestro de Rubens. A partir daí, cada membro da família mergulha em um estado mental único, tentando lidar com a ausência e o medo.

Performances de “Ainda Estou Aqui” que elevam o cinema nacional

As atuações em Ainda Estou Aqui são um espetáculo à parte. Selton Mello dá vida a Rubens Paiva com uma intensidade e entrega raras, mas é Fernanda Torres quem rouba a cena como Eunice Paiva. A partir do momento em que assume o protagonismo, ela entrega uma performance que transborda emoção e força. Eunice cresce diante das adversidades, e Torres expressa isso com uma conexão tão visceral que parece ultrapassar a tela.

Fernanda Montenegro, interpretando Eunice em sua fase mais madura, complementa essa performance com um impacto silencioso. Enquanto a Eunice jovem grita suas dores, a versão mais velha comunica tudo com olhares e gestos contidos. A dualidade entre as duas interpretações é uma das grandes forças do filme, trazendo camadas de complexidade e humanidade à personagem.

Walter Salles demonstra mais uma vez por que é um mestre da direção. Cada enquadramento, cada silêncio, cada escolha de luz e sombra é carregado de significado. A casa da família Paiva, por exemplo, não é apenas um cenário, mas um personagem que reflete as mudanças emocionais dos protagonistas. A transição do ambiente de conexão para um lugar de alienação e dor é conduzida de forma brilhante, mostrando como os espaços também contam histórias.

A direção de Salles potencializa o talento do elenco, criando cenas que ficam gravadas na memória. Ele conduz a narrativa de maneira precisa, equilibrando momentos de silêncio com diálogos carregados de emoção, sem jamais perder o ritmo ou o impacto.

 

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A memória como ato de resistência

Se há um tema que “Ainda Estou Aqui” explora de maneira visceral, é o poder da memória. Walter Salles nos convida a revisitar feridas abertas da nossa história, lembrando-nos da importância de não esquecer. A memória aqui não é um simples registro do passado, mas um ato de resistência e conexão.

Além disso, Eunice Paiva, com sua resiliência inabalável, é o símbolo dessa luta. Sua trajetória nos lembra que, mesmo em tempos de desconexão e sofrimento, é possível resistir. Lembrar é um ato político, e o filme nos força a confrontar nosso passado para evitar que erros tão devastadores voltem a ocorrer.

“Ainda Estou Aqui” é um marco no cinema brasileiro. Não apenas nos emociona, mas nos desafia a refletir sobre nossa identidade e história. É um filme que exige ser visto e sentido, um lembrete poderoso de que a memória é a chave para a resistência.

Por fim, se você busca uma experiência cinematográfica que vá além do entretenimento, que toque o coração e provoque a mente, “Ainda Estou Aqui” é o filme certo. Walter Salles entrega uma obra que nos conecta com nossa essência e com as histórias que não podemos deixar para trás.

Sobre Carlos Valim

Apaixonado por cultura pop. Aprendendo a escrever críticas menos emocionadas. Professor de História e fundador do GS.

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