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Por que O Legado de Júpiter incomoda?

O Legado de Júpiter' mirou em The Boys, acertou em Casos de Família
O Legado de Júpiter/ divulgação

Depois da sua estreia, O Legado de Júpiter movimentou a internet, os críticos e os curiosos. A série da Netflix traz uma abordagem pouco conhecida pelos fãs de quadrinhos, mesmo com seus diversos clichês. A obra de Mark Millar conta a história dos heróis mais poderosos da Terra, que enfrentam crises pessoais e familiares enquanto combatem o mal.

Listamos aqui alguns itens para tentar entender os motivos da série incomodar tanto, já que ela é mais uma série de heróis em um mundo saturado do tema – então ela deveria ser só mais uma e passar despercebida.

Primeiro de tudo: é uma adaptação, então o discurso de que os quadrinhos é melhor, nem deveria ser dito, já que são formatos diferentes e as adaptações são livres para mudar o que melhor cabe no formato de série. Para encerrar esse tópico, basta pensarmos nos filmes da Marvel, nem todo fã dos filmes leu os quadrinhos, algumas pessoas desconheciam muitos dos personagens apresentados no UCM, inclusive o Thanos, então argumentar que os quadrinhos é melhor é forçar um debate que não faz sentido, já que os formatos são independentes.

O outro ponto é que O Legado de Júpiter não é The Boys, são propostas e abordagens diferentes. O hype criado sobre O Legado de Júpiter afirmando que esta seria o “The Boys da Netflix” é equivocadíssimo. A abordagem de The Boys é muito mais visual do que narrativa, diferente da série da Netflix, que foca na narrativa – e isso, em partes, é um problema, estamos acostumados a ver pancadaria e espetáculos de CGI, o que O Legado de Júpiter não oferece. Em OLJ, temos os heróis enfrentando crises pessoais, que humanizam e questionam o papel dos heróis no mundo, até mesmo em relação ao comportamento heroico, questionando se é heroico mesmo?

Se o foco é a narrativa, OLJ deve ser visto como um drama e não uma série de heróis, assim como foi com Watchmen – a série da HBO, que fugiu muito da proposta do filme ou dos quadrinhos (mesmo sendo uma continuação dos quadrinhos). OLJ é um drama com elementos de super-heróis. E quando dizemos com elementos queremos dizer elementos estéticos, como as falas e os uniformes, por exemplo, que são representações do que vemos nas HQs, diferentes dos uniformes táticos da Marvel ou dos figurinos sombrios da DC de Zack Snyder. Em OLJ o que vemos são uniformes coloridos e muito próximos do que existe em diversas HQs. E isso choca os desavisados, que esperavam ver alguma coisa mais séria nesse quesito, é quase inconcebível ver um homem velho forte em uma roupa colorida com capa e comportamento digno de uma HQ, com falas que buscam um mundo ideal e justo.

Outra coisa inesperada, pelos fãs de quadrinhos, é a série não ter um vilão definido (até o último episódio), é estranho ver heróis lutando com “sei lá quem” ao invés de um vilão, como acontece em qualquer outra obra audiovisual de heróis. Somos levados para diversas tramas que estão ligadas ao personagem principal, o Utópico, e só – pelo menos até o último ep, onde as explicações são dadas e o gancho para a segunda temporada acontece.

Mesmo o foco sendo a narrativa, OLJ, apresenta uma narrativa em dois tempos, um flashback que conta como os heróis ganharam poder e uma linha do tempo presente, que prepara o terreno para a 2° temporada. Essa divisão narrativa incomoda, pois somos habituados a flashbacks curtos e diretos, que não acontece na série. 

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O Legado de Júpiter/ reprodução

E por último, algo que realmente foi estranho, temos efeitos especiais fracos, principalmente os CGIs, que poderiam ter sido melhores, mas é irrelevante, já que não é algo constante, entretanto, para quem está acostumado com o padrão Marvel, foi algo que atrapalhou.

Essa é uma exposição de fatores que fazem OLJ ser uma série que incomoda, mas ainda há um “vilão” que é a internet, muita gente criou muita expectativa sobre a série com base no que ela não é, principalmente por causa da ideia de que seria o “The Boys da Netflix”. O Legado de Júpiter deve ser encarada como uma série única, não com comparações com outras séries que pouco tem a ver com elas, como foi com WandaVision, que não é uma série convencional de super-heróis.

O Legado de Júpiter está disponível na Netflix e conta com oito episódios. 

 

 

Sobre Dan Claudino

Professor de História, aspirante a podcaster e escritor. Viciado em cultura cyberpunk e jogos de ação.

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