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A Todo Vapor!: quando a criatividade é a protagonista

A Todo Vapor: conheça a série brasileira steampunk do Amazon Prime Video |  Minha Série
A Todo Vapor!/ divulgação

Recente descobri a série brasileira com temática steampunk A Todo Vapor! e como um fanático por sci-fi e seus derivados eu maratonei e resolvi trazer minhas impressões aqui, com um tom de amor e carinho que a série merece.

A todo Vapor! é um desses projetos improváveis, que quando é pensado deve ser colocado em um papel, ou se perderá no estado da arte, pelo menos foi isso que aconteceu com Felipe Reis, criador de A Todo Vapor!, ator e roteirista da série também. Não existem muitas obras sci-fi brasileiras, pelo menos não são muito divulgadas, acabam se tornando cultura de nicho, como é com a HQ Acelera São Paulo, do Cadu Simões, uma bela visão cyberpunk de São Paulo, ou com as artes do  Vitor Wiedergrün com seu Cyber Agreste, de todo modo, obras brasileiras com temáticas distópicas ou que fujam da realidade não são comuns aqui nas terras tupiniquins, mas isso não impede de vez ou outra encontrarmos algumas pérolas como Gambiarra: o HD de Espadas, um curta que está disponível no Youtube (você pode assistir no final do artigo).

Em A Todo Vapor! somo apresentado a um universo steampunk brasileiro, fortemente influenciado por A Liga Extraordinária, do mago Alan Moore, em ambas obras a premissa é juntar personagens da literatura e colocá-los em uma aventura. Capitu e Juca Pirama são dois investigadores que se aventuram por crimes envolvendo fenômenos paranormais, para isso eles contam com vários outros personagens, alguns originais e outros  da literatura brasileira, assim é A Todo Vapor!.

O primeiro capitulo somos apresentados aos personagens e ao crime central da temporada (evitarei spoilers, pois, há uma virada na série que é interessante), e em todo começo de episódio um personagem, principal ou não, começa o ep. dando uma entrevista, como se fosse um documentário, que serve para complementar os episódios – que são muito curtos, com uns 20 minutos em média.

A Todo Vapor | Primeiras impressões da série brasileira steampunk |  CosmoNerd
Felipe Reis, A Todo Vapor!/ reprodução

Com um elenco composto por Felipe Reis, Thais Barbeiro, Pamela Otero, Alessandro Imperador, Antonio Destro e Bruna Aiiso e mais atores que são muito bem vestidos por um figurino steampunk e ambientados em uma pequena cidade do interior, a série passa sete dos oito episódios tentando desvendar os assassinatos inspirados em cartas de tarô, no último ep. temos um alívio narrativo e um gancho para continuações.

Acredito que estas informações são as básicas, nada que possa influenciar na experiência do espectador, daqui em diante falarei sobre aspectos da série que podem influenciar a experiência do espectador.

Mas não é só de figurinos bonitos que A Todo Vapor! se sustenta, a trama, no geral, é atrativa, lembra Sherlock Holmes ou alguma obra da Agatha Christie. Mesmo com semelhanças ou clichês de obras de investigação, a série tem – e mostra isso diversas vezes – muita criatividade envolvida, que fazem dela (a criatividade) a protagonista. Logo no começo do primeiro ep. percebemos que o orçamento da produção foi limitado, o que fez com que os produtores/diretores usassem ao máximo a criatividade, improvisando materiais e explorando técnicas de filmagens, criatividade nota 10/10.

A Todo Vapor! – trailer

Mas, justamente o orçamento limitado é, muitas vezes, um entrave, há cenas que os atores “falam gritando”, talvez pelo distanciamento do microfone e em outras cenas, pelo ambiente, o som parece ter sido gravado em um banheiro, pelo eco e reverberação. E isso não é o pior, dos aspectos negativos, algumas atuações são ruins, com falas forçadas e anacrônicas – digo isso, pois a série se passa em 1908 e como historiador, isso me incomodou algumas vezes. Há personagens pastelões como o a dupla de policiais, que não precisavam ser pastelões, já que a presença de ambos personagens foi importante na série. Assim como McHell, o “industrialista” que está na série apenas para mostrar o lado industrial da cultura steampunk.

E a série peca muito por tentar estabelecer um posicionamento ou uma singularidade, muitas vezes há referências divertidas, como a Emília lendo um livro do Monteiro Lobato, mas há referências do universo da série (que conta com HQ e livros), nesses momentos o espectador “fica boiando”. Essas cenas e diálogos poderiam dar lugar para uma tentativa de estabelecer um universo específico para a série, como quando os personagens falam dos positivistas de um modo que chega a ser irritante (novamente eu sou influenciado pela minha formação acadêmica).

A ousadia e a tentativa de acertar vários alvos de uma única vez, faz de A Todo Vapor! uma série mais ou menos, que se você não conhece o universo steampunk se sentirá vendo uma web-série amadora, dessas que são postadas no youtube por artistas amadores, mas com grandes sonhos. 

Com gravações iniciadas em 2017 e lançada em setembro de 2020, A Todo Vapor! está prevista para uma segunda temporada, em uma entrevista Felipe Reis disse: “Fizemos essa 1˚ temporada na garra, para conseguirmos produzir a 2˚ da forma como sonhamos, sem limitações e perrengues de uma produção independente. Já temos dois possíveis caminhos bem desenvolvidos para a história, e arco para mais 3 temporadas, além dessa segunda.” E novamente, a criatividade imperou, a série é bem construída, as limitações não barraram a narrativa, os oito episódios são bem construídos.

Eu como um amante de sci-fi recomendo que todos assistam A Todo Vapor!, que está disponível no catálogo do Prime Vídeo, da Amazon, com episódios curtinhos e um plot que vale a pena, sem falar nos easter eggs da literatura brasileira.

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Por este link você pode conferir um pouco das artes do Vitor Wiedergrün, clique aqui.

Clicando aqui você conhece Acelera SP do Cadu Simões.

Confira aqui Gambiarra, um curta cyberpunk brasileiro.

Sobre Dan Claudino

Professor de História, aspirante a podcaster e escritor. Viciado em cultura cyberpunk e jogos de ação.

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