Katana ZERO é o tipo de jogo que não tem como resumir em poucas palavras, é frenético, rápido, intenso, frustrante, emocionante, instigante e irritante (algumas vezes, mas a culpa será sua e não do game). O jogo da Askiisoft, empresa especializada em jogos retrô, não decepciona os jogadores que buscam uma experiência diferente dos AAA, a proposta de jogo indie é muito bem calibrada entre gráficos 2D, trilha sonora eletrônica e desafios que confundem e estimulam o jogador a se esforçar mais e conseguir uma boa cena de ação, e coloca ação nisso!
Disponível em todas as plataformas existentes (menos mobile), Katana Zero é um jogo pixelado com rolagem lateral e sem barra de vida, o que significa que qualquer dano é o suficiente para enviar o jogador de volta ao início do stage. E morrer é inevitável, com o passar das fases os inimigos oferecem mais riscos e estão em maior quantidade, o que é muito parecido com qualquer jogo. A jogabilidade se divide em quatro “habilidades”: golpear com a espada, pegar itens e jogá-los contra os inimigos, rolar para desviar dos inimigos ou projéteis e retardar o tempo (quase parando).
Durante o jogo temos referências NERDs, muito sangue e uma trilha sonora criada, principalmente, por Ludowic, que deixa a jogatina mais interessante, mesclando beats eletrônicos e algumas músicas mais lentas para romantizar alguns eventos. Entre as missões temos algumas situações em que podemos escolher os diálogos, isso influência o final do game (um dos finais é muito triste, pense bem em suas escolhas). Uma das situações em que escolhemos os diálogos é a sessão de terapia, que acontece entre as missões, são divertidas e fundamentais para o plot twist da narrativa, também, servem para explicar o passado do Dragão, protagonista do game.
A história se passa em um futuro distópico em que ocorreu uma guerra, o jogo não esforça para explorar isso, nem mesmo o mundo do próprio game, nesse sentido é um jogo intimista, as partes que nos envolvemos com o Dragão são quase todas em seu apartamento ou na sessão de terapia. Depois das primeiras missões, conhecemos uma vizinha, uma criança, personagem que humaniza o personagem. Algumas opções de diálogos com a criança nos levam para um caminho sem volta, tornando quase impossível não gostar da garotinha.
E esse apego à menininha é parte da trama, em um certo momento, depois de estarmos envolvidos emocionalmente com a personagem, somos levados a um empasse: uma escolha difícil (que não falarei aqui para não estragar a experiência dos leitores). E apesar do jogo ser todo pixelado, ele carrega uma carga emocional forte, traumas de guerra, violência como entretenimento e uso de drogas são alguns assuntos tratados nessa jogatina de menos de 5 horas.
Jogar Katana ZERO é uma experiência única, o jogo é convidativo, os personagens tem personalidades, as escolhas tem peso e a decepção é sua companheira fiel, cada morte é uma decepção diferente, chegar ao final do stage e morrer por não ter prestado a atenção é frustrante em demasia, mas concluir cada stage é gratificante (a parte curiosa é que o personagem tem ciência da morte e que ela é fruto de um erro de reflexo/planejamento).
O tom do jogo é um retrô muito bonito, homenageando os VHS. Os movimentos são fluidos e os combates apresentam um “glitch” na tela, que combinam tudo em um espetáculo visual. Por esses motivos Katana ZERO pertence ao panteão dos jogos indies 2D, não atoa que o jogo foi indicado ao The Game Award para Melhor Jogo Independente e BAFTA Video Game Award: Jogo Estreante. Mesmo lançado em 2018, Katana ZERO é um desses jogos que todo mundo deve experimentar. Dificuldade e diversão em um mesmo jogo, sem ser punitivo.
Ao término o jogo te convida a explorar outros modos de jogatina, com o modo speedrun e os níveis elevados de dificuldade, mas o charme mesmo, que vai fazer você voltar ao game, é a história, o desenrolar da trama que gira em torno da droga Cronos, que torna o Dragão um soldado excepcional, capaz de interagir com o tempo, congelando, retardando ou viajando por ele.
Rodeado de temas sensíveis, como uso de drogas, violência como espetáculo e traumas e guerra, Katana ZERO é um experiência indispensável para quem gosta de desafios e para quem quer uma história intrigante com um final chocante. Katana ZERO não é um jogo que vai fazer você refletir por dias, ou que vai fazer você se inspirar par ser uma pessoa melhor, Katana ZERO vai te forçar a ser melhor (pelo menos segurando um controle). Uma experiência rápida, bonita e emocionante, essa é a Santa Trindade de Katana ZERO. (E tome cuidado com suas escolhas)