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Crítica – Detona Ralph (2013) – ★★★★☆

Imagine que quando você desliga seu vídeo game os personagens de seus jogos favoritos continuem em suas atividades, sejam lutar contra lobisomens, correr corridas ou construir casas com blocos quadrados. Como seria isso com o jogo que você está jogando atualmente? No meu, um cara superando o luto seguiria rodando de moto e matando zumbis num mundo pós apocalíptico. 

No mundo de Detona Ralph isso é uma realidade. Mas no filme, o foco são os games de fliperamas, e não os consoles ou mobile games, algo que não é familiar às crianças e geração mais nova. Isso traz uma elegância ao filme, além de servir como uma homenagem aos games antigos que muitos marmanjos jogaram nos saudosos fliperamas, sem deixar de ser muito atraente para os mais novos que não tiveram a oportunidade de jogar numa dessas máquinas.

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Detona Ralph é o vilão de um jogo chamado Fix It, Felix Jr, que claramente referencia o antigo Donkey Kong (aquele onde o macacão jogava barris em chamas entre as escadarias de um prédio). No game, o herói Felix Jr tem um martelo mágico que conserta tudo que toca e quando atinge o pico do prédio consegue derrotar Detona Ralph, jogando ele diretamente numa poça de lama e sendo mais uma vez, adorado como o herói do game. 

Mas quando o jogo é desligado, a realidade é que Ralph é excluído e vive num lixão, tendo o desprezo de todos. Essa, inclusive, parece ser a realidade de todos os vilões dos games, já que ele participa de uma espécie de grupo de ajuda, onde vários vilões partilham suas tristes experiências. Determinado a mudar esse cenário, Ralph quer conseguir uma medalha de herói, para demonstrar seu valor a todos. O que não contava é que a medalha acabaria nas mãos da fofa e atrevida Vanellope von Schweetz, personagem de um jogo de corrida onde tudo é feito de doces. Para recuperar sua medalha, Ralph terá de ajudar Vanellope a ganhar uma corrida no jogo onde ela mora, para que ela deixe de ser apenas um bug do jogo e passe a ser uma personagem jogável. 

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Apesar de grande parte do longa se passar dentro dos jogos de Ralph e Vanellope, ele está recheado de homenagens e referências que os gamers dinossauros irão pegar (eu mesmo deixar muitas delas passar por não ser da época e não ter jogado esses games). Algumas piadas chegam a ser bastante pontuais e visuais, citando  paixões há muito consagradas dos games, como Mario, Sonic e Street Fighter. Além disso, é bonito ver as variações de traços de animação entre um jogo e outro, tem desde o mais pixelizado ao de resolução mais avançada. A trama principal também é retirada de uma das coisas mais irritantes para os gamers, que é a existência de bugs atrapalhando a jogabilidade; na trama, eles inclusive podem fazer com que as máquinas sejam desligadas, representando uma espécie de morte de quem mora dentro do jogo.  

Apesar do enorme universo disponível e visitado no longa, os roteiristas Phil Johnston, Jennifer Lee conseguem equilibrar e distribuir bem o tempo gasto em cada personagem; Detona Ralph e Vanellope não são os únicos personagens com seus arcos, temos também a malvada viúva Sargenta Tamora Jean Calhoun, que vive numa espécie de Call of Duty, e também o próprio Felix Jr, cujo objetivo na trama é convencer Ralph a voltar a fazer seu papel dentro de seu jogo, para que esse não seja desligado para sempre pelo mau funcionamento. 

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O longa dessa forma consegue se comunicar com os fãs mais velhos de jogos vintage e também com os jogadores mais novos. Tem também personagens de jogos típicos de meninos, como de ação, e também de meninas, muito embora um game não deva ter um público de gênero específico. Dessa forma, Detona Ralph é uma aventura divertida dirigida para o mais diverso público; um longa que tem a tecnologia retrô como seu trunfo principal, sem deixar que a modernidade de nosso tempo e de nossos videogames se tornem um desafio para isso. 

A lição trazida pelo longa é uma lição de cooperação por um bem em comum, de trabalho em equipe sem que seja necessário a exclusão de um ou outro por alguma característica. A introdução do ponto de vista de personagens de vídeo games é algo muito cativante, uma vez que eles são tão familiares a nós, mas apenas através da perspectiva do jogador. Ainda existe o aprendizado de que, mesmo que alguém tenha sido “programado” para certa função ou posição, ou mesmo que conviva com certos bugs, pode fazer disso algo positivo dentro de suas possibilidades. Sou mau e isso é bom, nunca serei bom e isso não é mau. Não quero ser ninguém além de mim.”

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Com apenas alguns deslizes nas interações que constroem a relação de Ralph com Vanellope, como a demora em desenvolver certos atos, Detona Ralph é o mix de referências da casa do Camundongo, e traz um vilão carismático como seu personagem principal. Não posso deixar de citar também a fofura de Vanellope que pode muito bem se tornar uma de suas personagens mais queridas da Disney.  Uma homenagem ao universo dos games, resgatando a jovialidade daqueles que calejaram seus dedos em fliperamas e despertando a curiosidade do público mais jovem para o clássico. 

Sobre Emerson Dutra

Um psicólogo que tem o mundo nerd como seu guarda roupa para atravessar para uma Nárnia que é mais divertida, interessante e justa que nossa realidade compartilhada.

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