Este texto não é uma critica odiosa da Marvel ou um hate avulso. Este texto é resultado de uma reflexão sobre os últimos anos da empresa e seu atual posicionamento criativo.
Um dos sucessos da Marvel é o leque de teorias que cada frame, vídeo, teaser, filme e imagem possibilita. Em 2008, depois de assistir ao primeiro filme do UCM, Homem de Ferro, muita gente começou a teorizar sequencias e personagens que deveriam ter filmes e mais um monte de teorias, quase como um efeito borboleta, essas teorias foram o bater de asas da borboleta que resultou nesse tornado criativo que é a Marvel hoje.
Se aproveitando disso, toda produção da Marve, hoje, é um mix de roteiro+teoria, como foi em WandaVision, com as dezenas de “aparições” do vilão Mephisto, que deu as caras até em Loki (como obvias referências). E agora o vilão, nunca mencionado de maneira oficial, dá as caras em Spider-man – No Way Home (como referência e teoria dos fãs).
A mais nova produção dos estúdios, a animação What if…?, se valeu das teorias para capitalizar em cima disso, com episódios que são, pura e meramente (e literalmente), versões alternativas de histórias já contadas pela Marvel. E What if…? é bom, com episódios bem animados e com enredos que deixam água na boca (como o ep. 2, sobre os Guardiões da Galáxia, sob a liderança de T’Challa). Entretanto, todo episódio parecer querer dizer algo a mais, algo particular e introspectivo.
O episódio desta semana, sobre Doutor Estranho ser tornar o Mago Supremo e reviver o mesmo evento que o fez buscar as artes místicas, parece falar muito sobre a Marvel, enquanto uma empresa criativa. Em todo episódio de What if…?, o Vigia começa com uma narração sobre possibilidades, sempre direcionando sua fala ao episódio, mas neste em questão, sua fala enfatizou várias vezes o conceito de escolha. E o episódio é sobre escolhas, Doutor Estranho busca mudar seu passado, tomando uma escolha muito arriscada, que fracassa miseravelmente.
Ao reviver a morte de Christine, várias vezes e em situações diferentes, o episódio parece nos dizer que alguns eventos são fundamentais para o que vem a seguir, quase como justificando algumas escolhas criativas que foram feitas no passado. E as mortes de Christine são alegorias de cortes ou decisões que foram necessárias, quase como nos dizendo que: o que foi feito, foi feito para um bem maior.
Em determinado momento do episódio, a Anciã aparece e diz que a morte de Christine é um ponto absoluto, o que dentro do episódio, é dito ser um evento imutável. E este é um ponto-chave desta reflexão, é neste momento que entendemos que o que foi feito, foi feito, cada corte feito pelo estúdio, cada escolha criativa e de direção, cada seleção de elenco e mais decisões, todas elas, são pontos absolutos. E por mais que odiamos o Mandarim, do Homem de Ferro 3; ou o descaso que temos com o segundo filme do Thor; é tudo parte deste ponto absoluto. E sempre que revivemos estes desgostos, estamos no papel do Doutor Estranho, revivendo a morte de Christine.
E o papel da Anciã e depois do Vigia, são representações da Marvel, enquanto uma empresa. Eles estão ali para colocar os pés no chão e limitar as abstrações – tanto dos diretores, quanto dos fãs. Tanto que no final do episódio, Doutor Estranho confronta o Vigia, o questionando sobre as decisões tomadas, o Vigia responde dizendo que não pode intervir, completando: intervir no tempo e nos eventos, só leva a mais destruição. E é quase instintivo fazer uma relação entre a fala e o posicionamento do Vigia com a Marvel, mas num sentindo oposto, onde não intervir gera destruição (aqui o papel de Kevin Feige é fundamental).
E este é mais um dos momentos que dizem muito sobre a Marvel, como foi o primeiro episódio de Loki. Aqui podemos relacionar os eventos principais do episódio com a empresa, os fãs e as decisões tomadas por anos. Há diversas referências que fomentam as teorias, aparições figurativas de Mephisto e Shuma Gorath, possíveis vilões do UCM no futuro. A própria discussão sobre momentos imutáveis e pontos absolutos que justificam arcos narrativos dentro do cinema e o final, auto-afirmativo sobre a onipresença e onipotência do Vigia, todos elementos que falam mais sobre a Marvel, do que suas produções.
What if…? tem episódios semanais, sempre explorando possibilidades dentro do seu próprio universo, quase como testando nossa curiosidade. E por ser canônica dentro do UCM, What if…? ainda tem muito a dizer sobre o futuro da Marvel e suas criações.