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Crítica: Eternos – ★★★★★ (2021)

Marvel's Eternals Powers, Origin, Cast and More Explained - IGN
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A melhor história do UCM está entre nós, meros mortais. Com mais de dez anos de construção, o arco da guerra do infinito marca o fim de uma Marvel tradicional, com histórias tradicionais de super-heróis e vilões. As produções que marcam a nova fase da Marvel, com novas caras, como Shang-Chi e Eternos, vêm acompanhadas de um novo olhar sobre a categoria de cinema.

Sempre que um filme Marvel é lançado eu me pergunto: e se tirar tudo que é Marvel? O que sobra? Eternos mostra que não precisa da Marvel para ser bom. Se tirar as referências do UCM, ainda sobra um filme agradável e com um história fantástica e completa – talvez, a menção ao blip de Thanos faça alguma diferença, mas nada significativo na macro-visão do que é Eternos. 

Eternos apresenta os novos dilemas: o certo e o errado frente a uma perspectiva. Com a mitologia dos personagens, criada nos quadrinhos dos anos 70, é normal ir ao cinema acreditando que os Deviantes são os vilões e que os Eternos estão lá para eliminar a ameaça deviante e proteger a Terra. Mas, nas quase 3 horas de filme, nos é mostrado que não há errado ou certo nessa história e, ainda que conflitante, há perspectivas, deveres e necessidades.

Com um elenco grande e, magnificamente, diversificado, Eternos, se faz uma obra audiovisual que mescla o cinema “cult” com o saturado mercado de filmes de heróis – novamente: se tirar tudo que é Marvel, ainda resta uma épico excelente. Dirigido e roteirizado por Chloé Zhao, vencedora do Oscar por Nomadland, que apresenta uma história com diversos clichês bem executados, como romances, mortes trágicas e reviravolta heroica. E a execução é tão bem construída que, por exemplo, quando Ikaris chora no final do filme, o espectador entende que aquele choro não é por amor ou por sentimentos em relação a personagem Sersi, mas sim por ter feito a escolha que fez e por não se sentir errado por isso.

Com uma escolha mais inclusiva, com heróis gay e uma heroína surda, o filme é um tapa na cara do conservadorismo geek, ou o “nerdola” de plantão. E essas características não influenciam em nada no filme, de maneira a parecer uma “lacrada”, ao contrário, Phastos decide lutar pela sua família, mesmo perdendo fé na humanidade e sua quase morte chega a assustar e faz o espectador torcer pelo herói mais do que qualquer outro que aparece em tela.

A não linearidade direta da narrativa, misturando flashbacks com dias atuais, ajudam a criar e construir os personagens. Salma Hayek, Ajak, serve como uma unidade materna para o grupo, protagonizando os momentos de desenvolvimento dos Eternos aqui na Terra – ela é quem explica a relação dos Eternos com o blip e com Thanos. E, para um filme com pelo menos seis protagonistas*, Duende (Sprite, Lia McHugh) se destaca por expor os problemas da imortalidade e como os humanos são abençoados com a morte. Druig (Barry Keoghan) é outro que mostra a benção da humanidade em ser apenas humanos, com defeitos e qualidades falhas. E essas exposições fazem de Eternos um filme que foge do drama do herói, em aceitar quem ele é e seu fardo.

Ao criar um universo que mistura a história real da humanidade com uma mitologia de seres cósmicos interferindo na nossa evolução, Eternos consegue cativar até o espectador que vive afirmando que odeia história, a cena no México, em 1500 é uma das que mexem com quem assiste, por misturar um dos maiores massacres da humanidade com a escolha de ser fiel ao dever, no caso os Eternos não interferem no massacre com o povo asteca.

Quase como premeditado que Angelina Jolie e Richard Madden (Thena e Ikaris, respectivamente) seriam os astros do filme, mas eles estão lá, principalmente a Jolie, para servirem de trampolim para os outros atores, que ganham pelo menos um momento de brilho. Aqui eu destaco Ma Dong-seok (Gilgamesh) e Kumail Nanjiani (Kingo), um é o ser mais forte, em força bruta, e ao mesmo tempo o mais sentimental; outro é o lado cômico da turma, mas que demonstra um senso de dever e lealdade cativante.

Eternos é um filme que não deve ser visto apenas como um adendo no UCM, mas como um épico de amor, como é Tróia (2004) por exemplo. Em exibição nos cinemas, Eternos marca a nova fase da Marvel com referências que não se perdem em uma busca por easter-eggs ou em referenciar o próprio universo (sem falar nas referências à DC).

Sobre Dan Claudino

Professor de História, aspirante a podcaster e escritor. Viciado em cultura cyberpunk e jogos de ação.

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