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Crítica: Cowboy Bebop – ★★★★★ (2021)

(Reprodução)

Cowboy Bebop é, sem dúvida, uma das grandes surpresas deste ano e a prova que a Netflix possui potencial para encarar o desafio das adaptações dos animes que ela vem anunciando. A série live-action traz de volta a trama do anime de 1998 criado por Shinichiro Watanabe com as devidas adaptações para um formato mais atual. Muitos fãs se reviraram após saberem da adaptação e logo torceram o nariz, criticando diversos aspectos da fidelidade da série. Mas Cowboy Bebop não se trata de você e do seu saudosismo, e sim de uma oportunidade de explorar um universo vasto e muito bem construído de forma inédita. Cowboy Bebop é sobre os dramas e tristezas, vividas com maestria pelos seus protagonistas. A série deixa de ser apenas um sci-fi adaptado de um anime e passa a ser uma lição sobre como se deve fazer uma adaptação.

Já confesso que não sou um grande fã do anime, pelo fato de tê-lo visto há muito tempo, mas que agora mais do que nunca vejo na série uma das minhas favoritas. O live-action da Netflix não tem medo de se arriscar e nos proporciona uma das melhores criações de universo que pude experimentar em um simples programa de televisão. A história não é complexa, nos encontramos no sistema solar após um acidente que obrigou os humanos a se espalharem e colonizarem os planetas ao redor do sol, na tentativa de se estabilizar e superar seus limites. Aqui temos um mundo comandado por três forças em constante conflito: o Sindicato, a Polícia e os Caçadores de Recompensas. Mas o destaque não é para a história macro, e sim a micro história de cada um dos incríveis personagens que foram brilhantemente adaptados nesse live-action. Mas na parte geral da trama, seguiremos nosso trio de protagonistas vivenciando problemas de seu cotidiano em uma sequência procedimental, onde cada episódio possui um começo e também um desfecho de sua trama, uma característica que me agradou muito e que fez todo o sentido para o formato da adaptação.

Ao passo que vemos os protagonistas avançarem em sua relação, também exploramos mais de suas profundas camadas, e cada personagem terá seu episódio para nos contar sobre suas origens, algo que particularmente me agradou muito, principalmente para as novas tramas criadas para cada personagem. Mas longe de ser meu objetivo aqui comparar com o anime, deixo essa tarefa para os saudosistas incorrigíveis. Quero apenas comentar um pouco de cada um dos protagonistas e como foi minha experiência com eles na adaptação. A construção de personagem que me deixou bem intrigado foi a de Faye Valentine, vivida por Daniella Pineda, que teve uma enorme carga emocional no seu arco. A personagem foi criogenizada e esquecida por seus familiares, mais tarde tendo sua identidade, conhecido por identikit, roubada por uma golpista que ela tem como “mãe”. E como se não fosse o bastante, toda a sua vida passada, antes de ser criogenizada, foi completamente apagada de sua mente, não restando nenhuma lembrança sequer. Logo que somos apresentados à história de Faye senti uma enorme empatia por ela e passei a torcer para o melhor desfecho possível para ela. Após uma série de encontros hilários com Spike e Jet, Faye se une aos dois e passa a caçar recompensas com eles enquanto tenta solucionar seus próprios problemas. E por falar na dupla, e que dupla, Spike Spiegel e Jet Black, interpretados por John Cho e Mustafa Shakir respectivamente, temos neles uma parceria sensacional que me divertiu muito em seus mais que hilários diálogos, que a propósito foram muito bem escritos. Jet Black é um armário ambulante com um braço robótico, ex-policial agora caçador de recompensas e um pai mais do que dedicado, o que faz dele um personagem extremamente carismático, mas que também possui um passado nebuloso, envolto em mistérios. Enquanto seu parceiro, Spike Spiegel é o típico cara enigmático e excêntrico, sempre debochando das situações, com uma habilidade incrível de combate corpo a corpo e também a longa distância. As melhores cenas de luta da série são, sem dúvida, protagonizadas por ele, como na cena de luta em cima do bordel, a cena é realmetne incrível, a coreografia está impecável e muito dinâmica, entregando uma excelente experiência visual. Spike é o persoangem com o passado mais misterioso do trio, um assunto que é recorrente nas conversas entre o trio, mas que só mais tarde iremos descobrir mais sobre a vida passada dele. Porém, nem todos os personagens possuem a mesma maestria no seu desenvolvimento, que é o caso do maior antagonista da série, Vicious, interpretado pelo ator Alex Hessell, que não soube dar vida a esse grande vilão e entregou uma bizarrice tremenda, me deixando um pouco decepcionado com sua atuação esdrúxula e caricata o suficiente a ponto de destoar de todo o clima da série, que já possui essa característica caricata de forma extremamnte positiva.

Nos efeitos temos um espetáculo visual, tudo foi maravilhosamente bem construído nesse universo, tornando-o muito imersivo. Claro que se trata de uma série construída em grande parte no fundo verde, como muitas outras, o que não diminui a sua beleza, pelo contrário, quando imaginamos algo que ainda está no campo do inimaginável, temos de apelar para as profundezas de nossa criatividade, e nisso temos um espetáculo visual, nos níveis de Star Trek Discovery, que me deixou de boca aberta em diversos momentos. A construção dos cenários está incrível, a dicotomia entre a alta tecnologia e a sucata espacial é notável, resgatando características do cyberpunk. Você ver uma nave parada no estacionamento ao lado de um carro que parece ser dos anos 50 é, sem dúvida, impagável e torna a experiência visual da série extremamente imersiva, no meu ponto de vista. A riqueza de detalhes nas construções dos cenários é um ponto alto dessa série. Para quem curte visuais sci-fi, a série vai te agradar pela estética.

Enquanto nos efeitos somos brindados com algo muito bem produzido, na parte sonora temos o que de fato marca a série com sua maior característica: o jazz. A trilha é sensacional, me lembrando muito a do anime, mas que tem trechos repaginados para se adaptar melhor ao tempo. A trilha sonora foi revivida pela mesma criadora da trilha do anime, Yoko Kanno, o que já é mais do que um sinal para a qualidade da obra. A compostiora acertou em todos os feelings da série, as músicas conseguem aprofundar cada momento e tornar tudo ainda mais incrível, sabendo muito bem se posicionar entre o sentimentalismo e a galhofa quando necessário.

Cowboy Bebop foi uma das melhores séries que já vi neste ano e possívelmente na minha vida toda. Na série encontrei tudo que busco para me entreter: bons personagens, boa trama, cenas de ação bem coreografadas, uma história envolvente e de brinde uma trilha sonora sensacional. Se você curte sci-fi e aventura, a série com certeza vai te satisfazer, ainda mais se você não for pensando em comparar tudo com o anime e se abrir para uma nova experiência. Recomendo Cowboy Bebop para você, que assim como eu, gosta de explorar as histórias que se passam além das proporções terrenas e navegam pela vastidão das possibilidades do universo. A série está disponível na Netflix e conta com 10 episódios de 39 a 50 minutos cada.

Sobre Carlos Valim

Apaixonado por cultura pop. Aprendendo a escrever críticas menos emocionadas. Professor de História e fundador do GS.

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