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Artigo: Resident Evil não serve para o cinema

A máxima “o que todo fã quer é service” não chega perto de ser algo sustentável na indústria do cinema, pois, só os fãs não sustentam a indústria. E os estúdios sabem disso, por isso nunca vemos uma adaptação que agrade os fãs e os espectadores comuns (a pessoa que não conhece a obra original). E pensando nisso, pretendo falar como Resident Evil não serve para ser adaptado aos cinemas.

Milla Jovovich voltaria para mais filmes de Resident Evil:"Não parece haver uma desvantagem"O primeiro filme de Resident Evil - BR Atsit
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O primeiro argumento que utilizarei é que são oito jogos principais, sendo dois “reboots” que utilizam elementos da história de Resident Evil, mas que poderiam ser qualquer outro jogo de outra franquia (não estou dizendo que são jogos ruins, mas como RE não funcionam). E onde isso implica em uma adaptação? No simples fato de existir muita coisa para ser contada, muitos personagens queridos e supraqueridos, como Leon, por exemplo. Aqui já temos um entrave que resulta na construção narrativa de uma obra cinematográfica: o que adaptar? Ligeiramente, a resposta mais óbvia é adaptar o primeiro jogo, entretanto, muita coisa só é explicada nos outros jogos – aqui retornamos ao problema primordial, o filme tem que agradar fãs e não-fãs, estes não se satisfariam com a história apenas do primeiro jogo, já que muita coisa ficaria sem explicação e os fãs não se contentaria com “tão pouco”.

E a questão de escolha do que adaptar é onde estúdios erram, a hexalogia com a Milla Jovovich é a prova cabal de que uma escolha ousada na adaptação é a certeza de criar alguma coisa que não é Resident Evil. Por outro lado, Resident Evil: Bem-vindo a Raccoon City, é uma exurrada de refêrencias e fan-services, deixando de lado uma história bem construída, tornado-se um filme de “zumbi” cheio de más escolhas criativas (isso não quer dizer que o filme é ruim). Ambas adaptações erram em adaptar, ambas erram em criar uma história não-sustentável fora das refêrencias e fan-services.

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Talvez o maior ponto aqui é a história, a questão estética é o menor problema, RE: Bem-vindo a Raccoon City, ousa na escolha de atores e acerta na questão dos ambientes, sendo um deleite visual, mesmo com atores nada parecidos com os personagens dos jogos. A hexalogia com a Milla Jovovich, apesar de ser um “não-Resident Evil”, tem ótimos momentos visuais. A questão da história é um problema até dentro dos jogos, ainda mais se considerarmos o RE7 e o Village, que abusam da liberdade criativa da série. Uma adaptação cinematográfica de RE não funciona, justamente pela história tão cheia de elementos da série de jogos. E é aqui que cravo o prego no caixão e reforço que RE não serve para os cinemas.

E mesmo as animações, como Resident Evil: No Escuro Absoluto, não funcionam, pois ainda seguem o ritmo de filme: introdução dos personagens, conflito, climax e resolução. Essa fórmula reduz o que RE tem a oferecer de história, isso se buscarem uma adaptação fiel. Bem-vindo a Raccoon city sofre com isso, a necessidade de adaptar elementos dos games, impediram a contrução de uma história sólida, alguns elementos do filme existem graças ao Deus Ex-machina, como o final, por exemplo. E a culpa não é da franquia de jogos, mas de escolhas de direção e roteiro, com uma certa influência do estúdio. E essa tríade, direção-roteiro-estúdio, buscam atingir os mais diversos públicos, já que um filme tem que render lucro e – infelizmente – não só agradar os fãs.

E esse artigo não é uma carta de ódio às adaptações de RE, mas uma reflexão. Não vejo mal nas adaptações, como eu disse acima, eu sou fã e quero service, mas tenho que ser honesto ao pensar nos filmes de RE, a maioria são ruins enquanto filmes. Bem-vindo a Raccoon city é um filme mediano, com furos de roteiro e decisões criativas que não funcionam, com leves acertos estéticos e erros na maquiagem e CGI, mas uma torrente de easter-eggs, que agradam os fãs dos jogos e não fazem sentido aos espectadores comuns.

Muito provável, a única forma de adaptar RE sem capar a história ou construir uma obra audiovisual mediana, seria uma série animada, já que questões estéticas, como zumbis e monstros, seguiriam o mesmo padrão visual dos personagens principais. Além de ser um modelo audiovisual que explora mais a narrativa, o que sanaria um dos maiores problemas dos filmes. Com uma história cheio de reviravoltas e uma gama de personagens principais ou fundamentais para o funcionamento da série, nenhum filme ou série de filmes, conseguiria adaptar Resident Evil de forma decente, sem exageram nas refêrencias ou na liberdade criativa.

Ainda não existe uma adaptação perfeita de RE, mas Bem-vindo a Raccoon city acerta nos elementos dos jogos, erra como filme, mas já serve de guia para futuras produções. E, quem sabe, uma continuação mais fiel aos jogos e mais qualidade enquanto filme. 

P.s.: Residente Evil: Bem-vindo a Raccoon city é bom, assistam.

Sobre Dan Claudino

Professor de História, aspirante a podcaster e escritor. Viciado em cultura cyberpunk e jogos de ação.

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