Com a proposta de abordar um mundo pós-apocalíptico de forma diferenciada, a série de drama Estação Onze é a nova produção original HBO Max que entrou no catálogo e foi altamente elogiada pela crítica. A série é baseada no romance de mesmo nome da escritora canadense Emily St. John Mandel, lançado em 2014. Na história acompanhamos um grupo de teatro itinerante em um circuíto de apresentações em um mundo devastado por uma doença letal, que praticamente dizimou a população do planeta. A premissa de uma pandemia aproxima a trama com a realidade que vivemos atualmente, o que torna intrigante de primeira mão, mas ao acompanhar a série em seus longos e arrastados episódios, muito daquilo que parecia o forte da trama, se perde no meio da insistência desesperada de citar Shakespeare e fazer com que tudo aquilo faça algum sentido.
Como característica básica de um drama, espera-se atuações que conecte o telespectador com o sofrimento dos personagens, fazendo com que a gente se sinta de certa forma ali presente, imerso naquele mundo, mas na série isso pouco acontece, ora pela atuação, ora pelo roteiro, que a todo instante visa atingir citações shakesperianas e esquece de desenvolver o que é de fato necessário. As atuações são como uma montanha russa em diversos pontos, não atingindo um grau de simpatia satisfatório com os personagens. A atriz Mackenzie Davis se arrasta em uma falta de experssão horrenda para uma personagem que carrega tantos traumas dentro da trama, as vezes tive que me forçar a acreditar que devido aos acontecimentos que presenciou, foi necessário adotar uma reação mais apática para a realidade por parte da personagem, porém, a atriz nem sempre colabora. O Profeta, interpretado por Daniel Zovatto também deixa muito a desejar no seu carisma, para um personagem construído para parecer perigoso, que usava do fanatismo religioso para alimentar uma crença em uma história inventada a fim de manipular crianças para agirem sobre o seu interesse, ele foi desenvolvido de forma fraca e sem tanto zelo. De forma geral as atuações são medianas, algo indesejável para um drama exaltado como este foi.
Mas as atuações não são o grande problema da série, como pode até parecer. A maneira escolhida de como a trama iria se desenvolver e os elementos que seriam postos em cena para se conectarem com o telespectador foram os desastres nesta série. A premissa é um tanto quanto intrigante e foi o ponto que despertou o meu interesse pela série, porém ela fica apenas no texto da sinopse e não consegue se estabelezer de forma interessante. Os eventos são todos arrastados, diversos momentos são descartáveis e de nada agregam para um sentimento de completude com a obra, parecem mais delírios que foram jogados em cena para cumprir com algum tipo de meta ou estatística, sem qualquer relevância. A ideia de construir um sentimento de que a arte poderia ser uma espécia de salvação para uma humanidade devastada é intrigante, mas falha vertiginosamente nesta série, ao tentar consolidar ideias vagas do que de fato é a arte, de forma geral. Mas talvez o ensinamento de que o passado não é importante seja essencial se você assistir essa série, pois de fato é melhor a esquecer em seguida.
Não há muito o que se dizer da ambientação, a não ser que cumpre bem com o básico que se espera de um mundo pós-apocalíptico, com cenários interessantes, chegando a parecer que são paisagens reais e não gravações em estúdio, algo bem positivo para o gênero. Claro que ao se assistir um drama, espera-se que haja cortes profundos e cenas que criam uma imersão com os acontecimentos, isso até que chega a acontecer, mas quase sempre é desviado pelas intenções do roteiro, que se perde quase sempre nas referências que tenta desesperadamente fazer. Mas em uma visão geral, toda a estética foi bem desenvolvida, sendo capaz de criar um cenário plausível com o que se espera do contexto.
Estação Onze é um drama pós-apocalíptico que tenta se desenvolver de forma palatável mas que falha miseravelmente. A série possui uma ótima premissa, com tudo que era necessário para se consolidar nas séries do gênero, mas que não atinge o esperado ao longo de seus episódios, que poderiam muito bem serem em menor quantidade, que ainda sim seria tempo demais. Se você curte o gênero de drama e também se interessa pelo tema pós-apocalíptico certamente que a série irá despertar seu interesse, mas cuidado ao criar expectativas, você pode se decepcionar. Estação Onze está disponível na HBO Max em 10 episódios de 50 minutos cada.