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Crítica: The House – ★★★★☆ (2022)

Uma das primeiras animações do ano nos apresentada pelo streaming vermelho vem para variar e deixar ainda mais exótico seu catálogo de animações. Nos últimos tempos, as adaptações e animações da Netflix vêm ganhando o coração dos espectadores e com The House o acerto é repetido. 

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No estilo stop-motion (A Fuga das Galinhas, O Fantástico Senhor Raposo) The House (2022) abraça um estilo inusitado em seu visual, narrativa e público. Nada mais normal para um projeto especial dividido entre quatro diretores que contaram com suas equipes de produção também distintas. O mérito fica por conta do excelente trabalho nos três capítulos do especial, cada um com um estilo de animação que, juntamente com o conjunto de cores, música e estilo narrativo, entregam um elegante (e, digamos, excêntrico) show. 

Os três capítulos do especial giram em torno de casas distintas, que servem como um personagem vivo, intermediando relações caóticas e familiares. Podemos encontrar aqui discussões sobre família, saúde mental, amizades e libertação, mas é claro, temos de ter uma certa crítica e capacidade metafórica apurados para encontrar essa mensagem. Talvez aqui esteja um dos poucos defeitos da obra, suas mensagens são quase completamente metafóricas e não devem conversar com o público em geral, sendo um entretenimento de difícil degustação. 

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No primeiro episódio, ambientado no início do século XIX, uma família sofrendo pressão social para melhorar sua condição de vida, encontra uma inusitada e irrecusável oportunidade de habitar uma nova mansão, projeto de um arquiteto filantropo que deseja apenas uma oportunidade de exercer suas habilidades criativas. Sem dúvida a mais perturbadora das três partes, esse capítulo tem um quê de thriller sobrenatural, revelando que na mansão habitam seres ou entidades não identificadas, mas que servem para construir analogias de como a falta de funcionalidade da casa aponta para os problemas do próprio núcleo familiar. 

No segundo capítulo, os personagens agora são animais, mais especificamente ratos, nos ajudando na suspensão da descrença e a buscar a mensagem de efeito, como numa fábula. Um rato arquiteto acaba de reformar quase que neuroticamente uma casa que será aberta para visitação. Entretanto, seus infinitos esforços em resolver os inúmeros problemas da casa são insuficientes, principalmente quando os principais candidatos a moradores parecem não se importar com o caos e a bagunça fétidos e promovem uma espécie de regressão para um estilo de vida mais baixo, animalesco e descivilizado. 

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A terceira parte fecha o especial com uma mensagem de libertação e esperança, quase que indo num caminho oposto ao da segunda parte. Aqui, os personagens (gatos) são habitantes de uma pensão que também necessita de boas reformas. O problema é que apenas a dona da pensão emprega esforços para melhorar a situação, enquanto os outros personagens, mesmo que bem intencionados seguem buscando soluções metafóricas que não servem para o problema concreto, e vão condenando a casa à uma inevitável imersão que arruinará o lar de todos. 

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Três diferentes mensagens que giram em torno dos conceitos de casa e lar. Como já mencionado, o entretenimento que aqui se apresenta não é acessível a todos, exigindo um mínimo de reflexão para desvelar seu sentido. As cenas são às vezes muito familiares, uma vez que a temática é esse lugar às vezes físico e às vezes imaterial que chamamos de casa. Não apenas a casa na qual habitamos nós e nossa família, mas também a casa interior, onde mantemos no escuro nossas bagunças mais íntimas e cujas fundações contam a história de nossa vida. O catálogo de animações para adultos ganha um título de peso muito interessante, nos lembrando de outros títulos muito queridos pela animação stop motion e mantendo o nível muito elevado. 

Sobre Emerson Dutra

Um psicólogo que tem o mundo nerd como seu guarda roupa para atravessar para uma Nárnia que é mais divertida, interessante e justa que nossa realidade compartilhada.

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