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Crítica: Feria: Segredos Obscuros – ★★★☆☆ (2022)

(Reprodução)

Feria: Segredos Obscuros é uma série de terror que foi adicionada recentemente ao catálogo da Netflix, ampliando ainda mais o seu repertório do gênero. O projeto está entre as produções espanholas que vem ganhando um grande destaque dentro da plataforma, atraindo a atenção do público pelas suas ótimas histórias. A série criada por Carlos Montero e Agustín Martinez, com a direção de Jorge Dorado e Carles Torrens, não conta com nenhum rosto conhecido em seu elenco mas cria um ar de tensão e mistério logo no primeiro episódio graças as boas atuações e roteiro. A trama irá desenvolver os acontecimentos em uma cidade chamada Feria, que sofre com um misterioso caso de suicídio coletivo organizado por uma seita de religiosos fanáticos. A abordagem religiosa da série é interessante e consegue prender a nossa atenção ao longo dos episódios. Embora tudo funcione muito bem, existem algumas ressalvas quanto à forma como o roteiro opta por desenrolar a trama, que pode se tornar cansativo.

Quando falamos em fanatismo religioso, logo pensamos em situações históricas que a humanidade já presenciou e ainda se vê obrigada a conviver. A religião, quando exercida de forma fundamentalista é, sem dúvida, um veneno que corrompe a existência humana e faz dela um simples fantoche de insolentes líderes inescrupulosos. Na trama vamos acompanhar a vida de duas irmãs, que após o incidente envolvendo a seita, descobrem que seus pais faziam parte de todo o acontecimento, e veem suas antigas vidas normais desmoronarem em sua frente. A cidade de Feria é uma comunidade pequena e fundamentalista, que passa a acusar as irmãs pelos crimes cometidos pelos seus pais, o que torna a vida das duas um verdadeiro inferno. A medida que a polícia investiga o caso e descobre mais sobre o que ocorreu, outros estranhos acontecimentos passam a tomar conta da cidade, levando todos a uma verdadeira histeria. Enquanto uma das irmãs tenta se desvincular das acusações, a outra começa a se envolver com os mistérios da seita, acreditando que poderá ver sua mãe novamente. A história é muito intrigante e consegue se manter firme, mas sofre com alguns excessos bobos, que as vezes podem tornar a experiência um pouco monótona, se perdendo em diálogos confusos e cenas desnecessárias, mas nada que atrapalhe o resultado final da série, que inclusive termina com um tremendo gancho para uma 2ª temporada.

Como mencionado antes, a série não conta com nenhum rosto conhecido, mas tem grandes atuações, convincentes o suficiente para deixar o clima de tensão e terror ainda maior. O grande destaque da temporada é para as duas irmãs, Eva e Sofia, interpretadas por Ana Tormeno e Carla Compra, respectivamente. As duas estão incríveis e passam uma sensação muito verídica de tensão, contribuíndo para criar um ambiente muito oportuno para os mistérios que vão sendo revelados diante delas. Mas não apenas as duas estão bem, o elenco composto por Marta Nieto, Patricia López, Isak Férriz, Ernest Villegas, Ángela Cremonte e Jorge Motos também está muito bem, todos com boas atuações, muito imersivas. Os diálogos são certeiros em sua maior parte e carregam um peso enorme de simbolismos religiosos, nos mostrando os perigos de seguir lideres insanos, que podem fazer de tudo para conquistar o que desejam, até mesmo sacrificar a vida de seus seguidores fiéis. Os personagens tem boas interações e se desenvolvem de forma muito natural, contribuindo para manter o ambiente de suspense necessário para prender a atenção, mesmo com os delizes e exageros, o resultado final é interessante.

Visualmente a série é implacável, com ótimos cortes e fotografia, apostando em paisagens profundas que causam uma sensação de solidão e desamparo, muito propício para o gênero e para a mensagem que a série busca passar. Os efeitos também funcionam muito bem para a série, que não aposta muito neles, mas acerta no que se dispõe a fazer. O cenário da cidade é imersivo, com aquela típica sensação de cidade deserta do interior, em que as pessoas estão sempre ali, ouvindo e vendo tudo o que acontece, aumentando ainda mais a sensação de pressão e tensão que as personagens tem de lidar.

Feria: Segredos Obscuros não é a melhor série de terror da plataforma, isso não temos como negar, mas ela cumpre bem o seu papel e pode vir a se tornar uma grande série a medida que avançar e arriscar em sua proposta sombria. Como um terror a série funciona bem, com ótimos momentos de susto e tensão, mas não a ponto de te deixar completamente horrorizado com os acontecimentos, na verdade, o que te fará se sentir assim é a percepção de que a mensagem religosa que a série traz não está tão distante daquela que temos em nossa realidade. O fundamentalismo religoso sem dúvida é um veneno, que aos poucos corrompe as sociedades humanas e as leva direto para o abismo da ignorância. Feria: Segredos Obscuros está disponível na Netflix com 8 episódios de 50 minutos.

Sobre Carlos Valim

Apaixonado por cultura pop. Aprendendo a escrever críticas menos emocionadas. Professor de História e fundador do GS.

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