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Crítica: Kimi – ★★★★☆ (2022)

(Reprodução)

Acaba de estrear no catálogo da HBO Max o novo filme de suspense dirigido por Steven Soderbergh, escrito e produzido por David Koepp. O filme traz uma ambientação que se passa durante a pandemia de COVID-19 em Seattle, em que uma trabalhadora de tecnologia agorafóbica descobre evidências de um crime violento ao revisar arquivos de áudio de um dispositivo chamado Kimi, mas encontra certa resistência por parte da empresa que a contratou quando decide levar a denúncia para o FBI. A empresa está prestes a faturar um alto valor com o dispositivo e quer manter todos os problemas fora de circulação para preservar a credibilidade de seus investidores. Com uma denúncia relacionada ao seu aparelho, tudo poderia entrar por água abaixo. O filme funciona bem como um suspense e cumpre seu objetivo, conseguindo atingir bons momentos, e embora o final dê uma certa deslizada, não faz perder a qualidade como um todo.

A trama do filme gira em torno dos limites que aparelhos como Alexa podem atingir no cotidiano das pessoas e até que ponto a empresa responsável deve interferir nos direitos pessoais para denunciar possíveis crimes. A reflexão proposta pelo filme é muito pertinente, nos fazendo refletir sobre os aspectos alienantes da tecnologia que utilizamos no dia a dia. A personagem possui camadas de personalidade que vão se mostrando com o desenrolar da trama, nos fazendo compreender melhor seu trauma e de como ele interfere no seu modo de reagir aos acontecimentos ao seu redor. Diante dos eventos, a protagonista precisa tomar uma atidude e agir por conta própria para realizar a denúncia do possível crime, mas ao fazer isso, ela percebe que se envolveu em algo que pode se tornar muito mais perigoso do que poderia imaginar. A partir dai o filme ganha uma nova velocidade e passa a se atropelar um pouco nos acontecimentos, mas não se deixa perder e consegue levar a trama para um final até que satisfatório. A direção de Soderbergh se mostra extremamente eficaz nesses pequenos deslizes, não deixando o filme perder o rumo, mantendo todas as cenas coerentes.

A personagem de Zoë Kravitz, Angela Childs, foi muito bem interpretada pela atriz, que conseguiu absorver uma personalidade um tanto quanto complexa e expressá-la de forma natural e interessante. É possível notar na interpretação da atriz os vários elementos que compõe a personalidade da personagem, principalmente no começo do longa, em que presenciamos um pouco do cotidiano e de como ela lida com seus traumas e reage aos problemas a sua volta. A agorafobia é um transtorno mental e comportamental, mais especificamente um transtorno de ansiedade, em que a pessoa sente fortes sintomas de ansiedade quando percebe que o ambiente que se encontra não é seguro. Cada gesto da personagem é importante para se compreender melhor a personalidade de Angela e isso é muito bem realizado por Zoë. A maneira como ela lida com as pessoas, o modo como interage de forma falsa nas redes socias, tudo buscando demonstrar uma vida que ela não consegue viver realmente. A COVID-19 é outro ponto muito interessante e acrescenta um toque a mais no longa, transparecendo uma sensação de atualidade. O longa tem um foco muito maior em Angela, mas também possui boas atuações de forma geral, como Rita Wilson, que também está estrelando o filme ao lado de Zoë. A atriz interpreta a chefe do departamento Natalie Chowdhury, responsável por ouvir e dar seguimento com as denúncias de possíveis crimes captados pelo dispositivo Kimi e embora sua participação seja mínima, a atriz entrega um bom resultado. O que talvez tenha sido um pouco inusitado é o personagem de Jaime Camil, que interpreta o criminoso contratado Antonio Rivas, que junto de seus 2 colegas, lembram bastante os três patetas, quando aparecem mais para o final do filme, com uma cena um tanto quanto cômica. Não é possível saber ao certo se o objetivo era ser uma cena de comédia, mas o desfecho do trio consegue ser satisfatório.

A ambientação do filme é muito boa. O longa leva um tempo construindo o contexto da vida de Angela, para que possamos compreender melhor e absorver as características que o roteiro busca construir. Esses elementos são bem intercalados e não soam forçados, dando um toque bem peculiar e agradável ao longa. Os cortes das cenas são interessantes e transmitem muito bem as sensações que a personagem tem do ambiente não ser seguro. Os elementos que tornam o filme um suspense funcional também são bem encaixados, contribuindo para uma sensação de tensão até que cheguemos ao ápice. Nos últimos minutos se percebe um pouco da pressa em concluir a história e a sensação que temos é de que as cenas começam a se atropelar, mas graças a boa direção, as conexões entre as partes são bem realizadas, não deixando o filme perder o sentido e caminhar para um conslusão satisfatória.

Kimi é um bom filme de suspense, que se mantém interessante graças aos diversos elementos peculiares apresentados na trama. A atuação de Zoë Kravitz é ,sem sombra de dúvidas, a melhor parte do filme. A atriz entrega um ótimo resultado para uma personagem complexa, sem soar forçado e fora do tom. A direação de Steven Soderbergh também merece destaque por juntar as peças com maestria, mesmo quando tudo parecia estar prestes a desmoronar. Kimi está disponível na HBO Max, com duração de 1h29, uma ótima pedida para encerrar um dia cheio.

Sobre Carlos Valim

Apaixonado por cultura pop. Aprendendo a escrever críticas menos emocionadas. Professor de História e fundador do GS.

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