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Crítica: Inventando Anna – ★★★☆☆ (2022)

(Reprodução)

Com uma proposta parecida com a da recente produção Golpista do Tinder, a Netflix adicionou em seu catálogo a minissérie Inventando Anna, da mesma criadora de Grey’s Anatomy, Shonda Rhimes, que narra os acontecimentos reais da vida de Anna Delvey, responsável por inúmeros golpes em pessoas ricas, sob a perspectiva da jornalista Vivian, que acompanhou toda a sua história para escrever uma matéria para o jornal que se tornou um sucesso. A história parte do momento em que Anna é presa e começa a ser entrevistada por Vivian, que passa a correr atrás de todas as informações para checar os fatos que a jovem conta. A série tem um desenvolvimento muito agradável, com ótimos momentos, mostrando um estilo de vida completamente luxuoso e como Anna soube subverter todas as pessoas a sua volta para realizar a sua vontade, o que para uns pode ser anti ético, para outros pode ser visto como uma façanha altamente ardilosa. Cada personagem que aparece na série tem uma boa representação e nos ajuda a criar uma versão própria de tudo que Anna realizou, que mesmo no fundo do poço, não deixou de acreditar nas próprias mentiras um segundo sequer.

As atuações com certeza são um ponto forte para a série. As cenas possuem diálogos interessantes e reflexivos, expondo um lado de nossa natureza humana que não vemos todos os dias. O tempo todo nos questionamos se o que a protagonista está fazendo é certo ou errado e graças a todo o contexto e a forma como os personagens são desenvolvidos e introduzidos na série, isso se torna uma tarrefa um tanto quanto complexa. Anna Chlumsky, que interpretou a jornalista Vivian, está fantástica, com uma atuação muito imersiva. Acompanhamos a personagem desenvolver um certo carinho pela Anna a medida que ela se confronta com a história da jovem e passa a vê-la como alguém que apenas estava em busca de seus sonhos. Já a atriz que vive Anna Delvey, Julia Garner, consegue criar uma personagem impressionante, a atriz soube dosar cada articulação e feição, entregando uma interpretação muito boa. Em diversos momentos sentimos raiva do modo como Anna trata todos a sua volta e que mesmo sendo pisados, continuam a tratá-la com o maior respeito. Uma jovem impressionante, que utilizando apenas da lábia, soube manipular todos ao seu redor para realizar o seu sonho. Outra atuação que merece destaque é a do advogado Todd, vivido por Arian Moyaed, que ajuda Anna a tentar se livrar das fortes acusações no tribunal. O ator consegue entregar uma excelente interpretação, muito convincente e sólida, principalmente nos momentos finais do julgamento, onde tudo que aconteceria com sua cliente, dependeria exclusivamente dele. É interessante ressaltar o vínculo estranho que Todd e Vivian passam a criar entre eles e com a Anna, como se os dois realmente passassem a gostar dela e quisessem o seu bem. As demais atuações na série também estão muito boas, o que torna a obra muito interessante nesse quesito, nos passando emoções muito ambíguas a todo momento, um acerto com certeza da produção.

A história da série é interessante e misteriosa, mesmo sabendo que Anna é uma golpista de alto nível e que no final não se daria bem, o modo como a minissérie desenvolve os acontecimentos prende a nossa atenção para cada detalhe e nos deixa ansiosos pelo desfecho. Uma realização interessante, pois ressalta um sentimento de simpatia com a personagem, ora desejando que seja exposta e pague pelos seus crimes, ora a vendo apenas como alguém que fez de tudo para realizar os seus sonhos. Enganar bancos e pessoas ricas é uma façanha e tanto para o currículo da personagem e até que ponto podemos dizer que há algo de negativo nisso? O ponto mais interessante é o modo como a produção nos faz questionar sobre essa decisões morais. Anna ficou muito próxima de realizar o seu sonho de ter uma casa noturna de luxo em uma propriedade de alto padrão em Nova York, com pessoas extremamente influentes e poderosas correndo atrás de tudo para ajudá-la, apenas com a confiança de que ela seria na verdade uma herdeira alemã de uma grande fortuna. Teriam as pessoas auxiliado Anna desde o início a fim de se beneficiar de alguma forma desta riqueza que a personagem alegava ter? Com o desenrolar descobrimos mais sobre sua origem e de como ela se tornou a Anna Delvey que vemos na série, imponente e sarcástica, disposta a tudo para atingir seus objetivos.

As cenas da minissérie aproveitam para expor uma estilo de vida de alto nível da elite burguesa norte americanane também para expôr sua natureza interesseira e aproveitadora. Ambientes de luxo são muito bem elaborados na produção, passando uma visão de uma vida que para muitos está completamente fora do alcance, onde vemos gastos altamente superfluos com imbecilidades da burguesia, um verdadeiro show de horrores do modo como o dinheiro torna as pessoas completamente apáticas aos problemas da realidade. Os diálogos também possuem uma forte carga emocional, principalmente na maneira como Anna trata a todos, sempre pisando e humilhando as pessoas, se impondo como se ela fosse realmente alguém superior, a quem todos deveriam se curvar. A maneira como ela ludibria os ricos para atingir seus objetivos é impagável e nos da certa satisfação ver a estupidez de todos que entregavam tudo que ela desejava apenas visando se aproveitar de uma fortuna que nunca existiu.

Inventando Anna é uma minissérie interessante que te prende do começo ao fim, com uma narrativa bem desenvolvida e muito bem construída. Cada episódio traz uma revelação diferente e contribui para a construção da personalidade da personagem. O maior acerto talvez esteja na reflexão daquilo que temos por moralidade e até que ponto podemos fazer o que for necessário para alcançar nossos sonhos. O preço que se paga pode ser alto, mas quantos estão verdadeiramente dispostos a correr atrás daquilo que acreditam? A resposta por mais amoral que seja, nos coloca em um ponto de partida para a autoreflexão acerca de nossa própria vontade e de nossos limites. A série é curta e os espiódios passam incrivelmente rápido. Se você se interessa por produções que exploram casos reais, essa com certeza merece o seu tempo. Inventando Anna está disponível na Netflix e conta com 9 episódios que variam de 50 minutos à 1h20.

Sobre Carlos Valim

Apaixonado por cultura pop. Aprendendo a escrever críticas menos emocionadas. Professor de História e fundador do GS.

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