Crítica | Armadilha ★★★★☆

Em uma realidade saturada por franquias e sequências previsíveis nos cinemas, M. Night Shyamalan ressurge com “Armadilha”, um filme que reafirma sua maestria em criar narrativas autorais e envolventes. Enquanto muitos estúdios e diretores seguem o caminho seguro, Shyamalan continua a nos surpreender com histórias que desafiam nossas expectativas e nos levam a questionar nossa própria realidade. “Armadilha” é um exemplo perfeito disso, onde o suspense psicológico vai além do esperado.

A trama de “Armadilha” gira em torno de Cooper (Josh Hartnett), um serial killer procurado pelas autoridades, que se vê preso em uma armadilha meticulosamente planejada enquanto leva sua filha a um show. O que deveria ser um momento de reconexão entre pai e filha se transforma em um jogo de sobrevivência, onde cada movimento de Cooper é observado e manipulado. Shyamalan conduz essa história com a habilidade que lhe é característica, mantendo o espectador em suspense enquanto revela lentamente as camadas da armadilha em que Cooper está preso.

O filme tem um começo eletrizante, que captura imediatamente a atenção do espectador ao revelar a cilada armada para Cooper. Esse primeiro ato é intenso e envolvente, estabelecendo um clima de tensão que permeia toda a narrativa. No segundo ato, a intensidade diminui um pouco, mas o filme rapidamente recupera seu fôlego no terceiro ato, entregando um desfecho satisfatório e característico das obras de Shyamalan.

Josh Hartnett brilha como Cooper, trazendo à vida um personagem complexo que transita entre a frieza de um assassino e a vulnerabilidade de um pai desesperado. Sua atuação é convincente, carregando a carga emocional do filme e tornando Cooper uma figura trágica e intrigante. O elenco de apoio também desempenha seus papéis de maneira eficaz, contribuindo para a construção de um universo rico e detalhado.

Tecnicamente, “Armadilha” é um deleite visual. Shyamalan emprega sua marca registrada de fotografia envolvente e enquadramentos precisos para criar uma atmosfera de claustrofobia e paranóia. Cada cena é meticulosamente composta para aumentar a tensão e imergir o espectador no mundo de Cooper. O diretor, conhecido por suas reviravoltas ousadas, atinge em “Armadilha” um equilíbrio que satisfaz, entregando uma narrativa visualmente deslumbrante e emocionalmente impactante.

“Armadilha” traz uma reflexão sobre identidade e as forças externas que moldam nosso senso de si. Cooper, ao longo do filme, enfrenta não só as consequências de seus atos, mas também o peso de ser constantemente definido por esses atos. Ele é um homem preso em uma armadilha, não apenas física, mas psicológica e social, onde sua identidade é moldada pelas percepções alheias e as expectativas que lhe são impostas. Essa dinâmica levanta questões profundas sobre até que ponto somos capazes de escapar das narrativas que os outros constroem sobre nós e como essas narrativas podem se tornar verdadeiras prisões.

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Em “Armadilha”, Shyamalan nos convida a refletir sobre a natureza da identidade e do livre-arbítrio, questionando se é realmente possível se libertar das armadilhas sociais e psicológicas que nos são impostas. O filme provoca uma reflexão sobre como somos moldados pelo olhar do outro e o impacto disso em nossas vidas.

“Armadilha” é um triunfo de M. Night Shyamalan no cinema autoral, oferecendo uma experiência que vai além do mero suspense, mergulhando em questões que ressoam muito além da tela. Recomendo fortemente para fãs de Shyamalan e para qualquer um que aprecie um bom suspense psicológico que desafia nossa mente.