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Crítica: Ataque dos Cães – ★★★★☆ (2021)

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Ataque dos Cães (2021) é o mais recente filme da cineasta Jane Campion, que já havia sido premiada em 94 pelo Oscar de melhor roteiro por O Piano, também sendo a primeira mulher a receber o Palma de Ouro pelo mesmo filme, e nesse que além de ser indicada como melhor diretora, o filme está sendo indicado a mais outros onze Óscars. Em Ataque dos Cães, ela cria um Western revisionista, adentrando a vida dos irmãos Burbank, principalmente na de Phil (Benedict Cumberbatch), um homem que é incapaz de lidar com outras pessoas a não ser pela truculência e dominação.

A solidão e abandono é um sentimento que todos os personagens sentem, existe um clima de opressão e claustrofobia que a câmera de Campion faz questão de capturar, impossibilitando qualquer que seja a liberdade que aqueles personagens busquem. Em um mundo tão opressivo, homens são obrigados a se livrarem de seus lados femininos e doces, e mulheres são obrigadas a tomarem um posto de servidão e pilar emocional. O revisionismo não se vem pela romantização da violência, como em Os Imperdoáveis (Clint Eastwood) que buscava desconstruir esse lado fantástico que Hollywood criou na violência, mas pela desconstrução da masculinidade viril que esses filmes exaltavam.

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Benedict Cumberbatch junto de Will Smith por King Richards, é um dos favoritos à indicação de Melhor Ator. Phil é um personagem opressivo, mas também alguém que é oprimido pelo espaço que ocupa. Cumberbatch consegue dialogar só com seu olhar, em grupo seus olhos carregam um ódio, mas quando afastado dos outros só resta solidão ou melancolia. Os outros atores se tornam formigas ao seu redor, só Kirsten Dunst consegue se aproximar de seu nível. Seu personagem muito se aproxima do personagem criado por Daniel Day-Lewis em Sangue Negro, mesmo distante dos outros, ainda sim se é capaz de sentir sua mão controlando os espaços.

Jesse Plemons e Kirsten também são indicados aos papéis de ator e atriz coadjuvante, Jesse Plemons como George carrega no olhar um cansaço da relação com seu irmão, suas relações desgastadas chegam ao ápice do conflito quando a personagem de Kirsten, Rose, se casa com George e muda-se para o rancho. Rose não suporta a misoginia e ódio de Phil, ainda teme por seu filho Peter, que já havia sofrido as humilhações de Phil anteriormente. Rose sempre está em espaços apertados enquanto Phil ocupa a tela, a relação tóxica de dominação é sempre presente.

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Todas as mulheres sofrem essa falta de espaço, e sempre em espaços com menos iluminação, enquanto homens tomam os espaços, seus corpos ocupam a tela enquanto o sol banha seus rostos. Ari Wegner consegue com sua cinematografia, imprimir as relações de poderes daquela época, além de criar paisagens belíssimas, mas são os momentos mais introspectivos que ganham beleza. É como se aquele espaço que os sufocam deixasse de existir, podendo se despir das amarras sociais e reencontrar suas individualidades.

A trilha sonora assinada por Jonny Greenwood, guitarrista do Radiohead, crepita na alma com um desconforto junto do cenário. Mesmo nos momentos mundanos daqueles personagens, ela existe para além de nossos ouvidos, ela é a ambientação de todo aquele desconforto e descontentamento. O som dissonante dos violinos acaba sendo dissonante do que vemos em tela, mas é a personificação daquilo que os personagens sentem ou do que somos incapazes de enxergar nos neles. Ela ganha vida e se torna um personagem que está levando aqueles personagens ao limite, como se instigasse eles a explodir naquele cenário desolador.

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O Ataque dos Cães é um dos grandes filmes do Oscar, mas ele vai além de suas indicações, ele é por si só uma obra grandiosa. Não é perfeito, existe uma pequena barriga, mas ele nunca perde a força motriz que o move, tendo um elenco grandioso, uma diretora que sabe muito bem o que faz, e um roteiro que vai além do que está na tela, criando subtextos e reflexões que duram para além da sua duração. O Ataque dos Cães se encontra disponível para assistir na Netflix.

Sobre Matheus Henrique

Amante do cinema, jogos e literatura, buscando estudar e aprender sobre o que ama e assim trilhar o caminho de crítico. Escrevo algumas coisas no Letterboxd e Instagram de vez em nunca. Letterboxd: https://letterboxd.com/Matatheusx/

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Um comentário

  1. Puxa, que enorme filme! Nada esperado o desenlace final deste e todos os personagens são extremamente bem caracterizados, seja em suas índoles como em seus exteriores. Complexidades e tramas típicas de seres humanos – mormente em épocas onde a diversidade é posta em panos quentes. Trilha altamente envolvente que pontua dramaticamente toda a película. Merecida nota máxima!

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