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Crítica: Escolha ou Morra ★★★☆☆ (2022)

(Reprodução)

Com uma lógica semelhante a Jogos Mortais, Escape Room e até mesmo Round 6, o novo filme da Netflix, Escolha ou Morra, faz uso do clichê de jogos perigosos com prêmios para os vencedores, acrescentando um elemento sobrenatural na fórmula. No longa, vamos acompanhar uma estudante falida, que trabalha em um subemprego para manter sua família, que também passa por problemas. Mas sua vida está prestes a mudar quando ela encontra um jogo antigo, dos anos 80, que promete uma recompensa de 100 mill doláres para o ganhador. O que ela não poderia imaginar é que o jogo é como uma maldição, que irá exigir dela decisões difíceis e inesperadas. e para vencer, a jovem terá de fazer sacrifícios e superar antigos traumas.

Quando imaginamos o tema de jogos que possuem uma recompensa a troco da vida do jogador, é normal pensarmos logo em Round 6, que abordou o tema muito bem e soube levá-lo a um novo nível, ampliando a nossa percepção sobre as desigualdades da sociedade. Em Escolha ou Morra, o mesmo acontece, o protagonista confronta a natureza do problema e decide reagir aquilo alterando sua continuidade. A diferença está unicamente no fator sobrenatural, que cria um certo mistério quanto a sua origem e deixa a trama interessante.

Mesmo abusando do clichê a trama possui elementos atrativos, principalmente ao acrescentar certas características sobrenaturais misturadas com tecnologia. Nas primeiras cenas, já somos introduzidos ao jogo e ao que ele pode fazer com quem está jogando, em uma sequência na casa de um jogador que está com sua esposa e filho. O jogo lhe obriga a realizar uma escolha que altera a realidade. Com isso, vemos que não se trata de um jogo construído por humanos, a não ser que sejam mágicos, pois o jogo consegue provocar reações na realidade. Após isso, passamos a acompanhar a jornada de Kayla, que luta contra as dificuldades da vida tendo que trabalhar em subempregos para sobreviver, ao mesmo tempo que tenta estudar para mudar de vida. Um típico personagem desse gênero, mas com o diferencial de ser uma mulher. Kayla descobre como o jogo funciona quando está em uma lanchonete e presencia uma cena perturbadora.

A partir daí, Kayla estaria completamente envolvida no jogo, tendo que jogá-lo todos os dias no mesmo horário, sem saber o que a esperava no próximo nível. A jovem tenta buscar ajuda com seu amigo, que até consegue ajudá-la, mas os dois vão descobrir que tudo isso pode ser ainda mais sinistro do que aparenta na superfície.  O desenvolvimento da história tem um bom ritmo, sabendo a hora certa de entregar os detalhes da trama e também de trazer uma morte interessante. Ainda que o tema seja um clichê, ele é bem trabalhado, tornando interessante o suficiente para prender a nossa atenção do começo ao fim.

Os rostos no longa também são conhecidos para aqueles que acompanham mais produções da Netflix. A protagonista Kayla é vivida pela Iola Evans (The 100), que está bem no papel e entrega uma boa personagem. A motivação da personagem é clichê, mas ela também possui um background traumático que agrega na sua personalidade. Inclusive, a personagem terá de lidar com esse trauma de forma chocante no filme, sequência que ficou bem bolada. O amigo de Kayla, Isaac, é intepretado pelo conhecido Asa Butterfield (Sex Education), que faz um bom personagem. O jovem se envolve no jogo na tentativa de ajudar sua amiga após presenciar junto com ela um nível do jogo. Os dois personagens formam um bom time e conseguem carregar bem o ritmo dos acontecimentos, mesmo com os problemas de diálogos do roteiro, que deixou alguns momentos bem rasos e beirando o clichê enfadonho.

O elenco ainda conta com nomes como Eddie Marsen (Danos Colaterais), Kate Fleetwood (A Roda do Tempo), Ryan Gage (O Hobbit: A Desolação de Smaug) e Angela Griffin (Help). Os personagens embora simples e caricatos, estão bem nas cenas e cumprem seu papel de forma aceitável. De forma geral, o filme tem boas atuações que dentro da proposta estão boas. O problema foi em alguns momentos o roteiro que não soube se guiar e se deixou levar por uns clichês meio desconexos, quando poderia estar avançando com algo relacionado ao jogo ou ao mistério sobre sua criação.

O longa tem a direção de Toby Meakins e o roteiro de Simon Allen. O roteiro tem seus méritos, mesmo trabalhando com clichês, trouxe um diferencial interessante que agrega muito para o filme. O elemento sobrenatural e a mistura com a tecnologia fogem um pouco do habitual e são bem executados, deixando a trama intrigante. O trabalho da direção é muito acertado no longa, entregando cenas muito bem boladas, mesmo que pautadas no clichê do gênero. Há mortes que ficam um pouco forçadas, meio que fora do aceitável para o contexto da série, mas que passam batido por outros que são bem boladas. Não há como revelar as mortes sem dar spoilers, portanto, vou evitar para não estragar sua experiência. Mas há sim boas mortes, bem criativas até, dentro do possível. A forma como o elemento sobrenatural se sobressai ao mesmo tempo que se conecta com a parte do jogo ficou bem interessante e despertou bastante o meu interesse. 

O alinhamento do suspense e terror com a trilha sonora também foi bem executado, com cenas que chegam a realmente ser um jump scare eficaz. Muito disso se deve ao fato de que a trilha sonora soube criar um ambiente de terror muito bom e convincente, que te absorve completamente para a atmosfera que o filme está criando, uma tarefa que alguns filmes de terror sofrem para entregar, isso quando entregam.

Escolha ou Morra é uma surpresa interessante no catálogo de terror da Netflix. O filme se baseia em clichês para construir sua base, mas acrescenta elementos novos e interessantes que também roubam a cena. As atuações estão boas, mesmo sofrendo com a falta de criatividade do roteiro para desenvolver os personagens de forma menos clichê. Os efeitos são agradáveis, com boas sequências de tensão e terror, além de mortes bem elaboradas. O longa é uma boa escolha para você que curte o gênero de terror, principalmente obras como Escape Room, Jogos Mortais e Round 6. Se você curte algum desses, provavelmente vai gostar desse filme.

Escolha ou Morra está dsponível na Netflix.

Sobre Carlos Valim

Apaixonado por cultura pop. Aprendendo a escrever críticas menos emocionadas. Professor de História e fundador do GS.

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