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Crítica: Fresh ★★★★☆ (2022)

 

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Aviso: essa crítica contará com duas sessões, uma sem spoilers e outra com alguns spoilers da trama, quando for chegar nos spoilers irei dar o aviso.

 

Fresh é a concepção de um filme que se esconde por trás das aparências, sendo um thriller/comédia que para olhares desavisados, pode pegar desprevenido pelo o que ele esconde por trás de uma narrativa aparentemente simples. Sendo um filme dirigido por Mimi Cave, o filme estreou na Star+.

Mimi cria um filme que se pauta nas aparências, abrindo como uma comédia romântica que nos introduz Noa, interpretada por Daisy Edgar-Jones, conhecida por seu papel em Normal People. Vemos a protagonista indo para um encontro que marcou por aplicativo, e já no encontro nos deparamos com um rapaz arrogante, xenofóbico e machista, ao qual ela acaba recusando sair de novo. Nesse início Mimi com sua câmera já cria um estranhismo com a carne, tanto com planos detalhes nos corpos dos personagens quanto aos alimentos, ela se preocupa muito mais com os corpos do que com a própria relação diante da tela.

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Não há sutileza as críticas que Mimi faz, ela é direta sobre a forma que Noa enxerga e se sente com relacionamentos, sendo o primeiro encontro recheado de frases machistas que Noa demonstra aversão, mas é nas relações carnais que existe uma sutileza, os próprios aplicativos de encontros podem se criar paralelos com açougues, como se a carne/pessoa mais fresca/interessante estivesse esperando pra ser comprada/conhecida. Noa se encontra distante de relações amorosas, sua única relação aparente é com sua amiga Mollie, interpretada por Jonica T. Gibbs, uma mulher forte e independente.

Quando Steve nos é apresentado, interpretado por Sebastian Stan, o famoso Bucky do MCU, o filme ganha um ar de comédia romântica, ele é um homem engraçado e cheio de charme, ao qual sempre buscar deixar Noa confortável sendo o mais gentil possível. A relação dos dois é cheia de química, e é dessa relação que o filme vai evoluir para algo maior.

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O campo visual sempre brinca com a nossa percepção, seja nos planos detalhes, até mesmo no extra campo, criando cenas que nunca aparentam querer mostrar seu todo. Como thriller ele funciona muito bem, revelando suas cartas somente no segundo ato,  se revelando algo muito mais profundo, estendendo sua crítica para outro campo e tratando de assuntos obscuros. É um filme enervante e pode ser que algumas pessoas simplesmente não consigam assistir, Mimi consegue muito bem chocar com algumas cenas escabrosas, dignas de um filme de terror extremo.

SPOILERS

Provavelmente Audition tenha sido um grande referencial para a obra, lá temos um filme que também se utiliza do romance como ponto inicial para depois se tornar algo muito mais perturbador e indigesto, a diferença é a troca de perspectivas, já que lá temos um homem como protagonista abusando do seu poder para conquistar alguém, ao qual se revela mais para frente ser a vilã, já em fresh temos uma mulher como protagonista sendo seduzida e capturada por um homem, ao qual demonstra que tem poder e controle da situação, além de ser um canibal que vende a carne da suas vítimas.

O filme de novo não esconde suas críticas, Steve é visto como o homem branco que gosta de estar no poder, que sente prazer na dor nos outros e não vê nada de errado nisso, mas vai além, como um relacionamento abusivo, onde Noa vê o lado verdadeiro de Steve, um relacionamento que literalmente e figurativamente ele canibaliza quem ama, mas que tenta sempre manter a aparência de quem que não está fazendo nada de errado e que está cuidando dela.

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Nessas relações a carne ganha um novo significado, mesmo Steve, quando relembramos muito de suas atitudes e conversas, ganham um significado a mais, é nas nuances que o filme esconde as reais intenções de seus personagens. A carne não esconde mentiras, só disfarça as impurezas e meias verdades. Noa percebe que se quer se salvar de Steve, precisa também agora fazer o mesmo jogo que ele.

Fresh ainda sim nessa relação consegue manter o humor, mas um humor mórbido, muito do riso que o filme nos faz soltar é de nervoso com as situações, colocando em momentos onde o grotesco é mostrado com um senso de humor e naturalidade que choca, mas nunca soa estranho, o filme nunca busca realismo, sendo um filme maneirista que brinca com as situações que cria.

FIM DOS SPOILERS

Mesmo sendo um filme que consegue ser único, seu todo não é perfeito. Em sua ânsia de chocar, existe uma fetichização da violência que vai muito contra o discurso que ele busca, não sabendo parar muitas vezes entre o choque e a especularização. Outro é o elenco de apoio, que apesar de Moille ser uma personagem interessante, sua subtrama não adiciona muito à trama no geral, junto dos personagens que a acompanham.

Fresh é um filme que pode soar um tanto forte para algumas pessoas, porém ainda sim é um ótimo filme pra quem busca algo original, não por inovação, mas por justamente brincar com alguns elementos que já foram usados milhares de vezes sem que deixe cair nos clichês mais óbvios e buscando criar tensão até o último segundo. Tenso, mas também cheio de um humor mórbido e personagens carismáticos, Fresh é a conciliação de vários elementos que poderiam ser desperdiçados, mas que no geral criam um ótimo filme que mantém seu ritmo até o final.

Sobre Matheus Henrique

Amante do cinema, jogos e literatura, buscando estudar e aprender sobre o que ama e assim trilhar o caminho de crítico. Escrevo algumas coisas no Letterboxd e Instagram de vez em nunca. Letterboxd: https://letterboxd.com/Matatheusx/

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