Parafraseando Nietzsche: quando Michael Myers olha por muito tempo para o espelho, o espelho olha para dentro do Michael Myers. E assim, resumo o “climax mitológico” de Halloween Kills: O Terror Continua, o novo filme da franquia do assassino mais icônico da cultura slasher.
Halloween Kills continua da onde seu antecessor parou, Halloween 2 (2018), o que é muito bom, pois muitos dos que assistiram ao novo filme, revisitaram o último e o primeiro filme, Halloween de 1978. Com essa abordagem ariscada, David Gordon Green, revisitou uma das franquias mais afetadas por remakes do gênero slasher. Se em 2018, a história seguia os acontecimentos de 1978 com uma boa aceitação ,agora em 2021 esse feito segue sem muita dificuldade.
Como um ritual catártico, Halloween Kills, se deixa levar pelos clichês de franquias e perde tempo de tela explicando o mínimo sobre Michael Myers. E aqui que a gente tem o pulo do gato [preto], não houve dedicação em explicar quem é e o que faz com um “palestrinha” numa roda de amigos, colocaram flashbacks e um monólogo de Tommy Doyle (Anthony Michael Hall, sim aquele mesmo do Clube dos 5), que funcionam bem como explicação para quem está chegando agora na franquia, ainda serve como estímulo para quem não viu os outros filmes, assistirem o quanto antes.
Dentre os últimos slasher que recebemos, Halloween Kills, consegue entregar um prato completo, como nenhum outro slasher de 2021 entregou. Mortes chocantes (pobre senhorinha do drone); clichês de mortes avulsas e vilão enfrentando um protagonista, são alguns ingredientes do filme, que juntos conseguem satisfazer os fãs da franquia e agradar os mais críticos. E, para que não se tornasse um prato de arroz e feijão, Halloween Kills trouxe uma “novidade”. colocou os citadinos como caçadores do assassino. Ainda que não seja novidade, a forma como essa caça impacta no filme é bem construída, questionando a mitologia de Michael Myers como um ser “inderrotável”, coisa que é debatida ao longo do filme. Essa caça protagoniza uma das mortes mais cruéis do filme, que nos leva a pensar que a sociedade é tão má quando um assassino mascarado – no sentido geral, serve como uma metáfora para a cultura do cancelamento.
Em toda franquia de Halloween, é aceitável considerar Halloween Kills como o mais brutal, pouca conversa e mais ação, com cenas que se destacam pela agressividade de Michael Myers, como a cena dos bombeiros, por exemplo. Com quase duas horas de filme, não existe um preocupação ou necessidade de desenvolver personagens, os poucos personagens que ganham um tempo de tela, que indicam relevância no filme, são brutalmente assassinados. E essa agressividade, é responsiva, gerando no espectador um desejo de desfecho para os personagens, às vezes, a curiosidade de saber como personagem X vai morrer (ou não).
Jamie Lee Curtis, a estrela principal dos primeiros filmes da trilogia “canônica”, é, até certo ponto, dispensável neste filme, seu papel sofre com as consequências de Halloween 2, então a atriz está no filme apenas para agradar velhos fãs (e isso não é ruim). A atriz afirmou, em entrevista antes do lançamento que seu papel seria mais “parado” em relação aos outros filmes, então já era de se esperar.
Halloween Kills é um ótima pedida para uma noite chuvosa ou uma tarde nublada. Com cenas que não precisam de muita interpretação, ou um roteiro mirabolante que “explode” a cabeça do espectador, se fazendo passar por um filme básico, mas muito competente. Tendo como auge as mortes, e é claro a trilha sonora, mantendo a trilha original dos anos 70 com uma leve repaginada.
Em época de estreias de filmes como Duna, 007 e Venom 2, Halloween Kills é uma ótima pedida.