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Crítica: Luca – ★★★★★ (2021)

Lançado diretamente no streaming Disney+, Luca, a mais nova animação da super dupla criativa Disney/Pixar é um projeto menor, dando a impressão que é feito justamente para ser apreciado de maneira mais intimista, mas que traz mensagens tão fortes quanto as que já conhecemos desses mesmos estúdios. 

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O filme fala numa linguagem muito acessível, e sua lição de moral é capaz de ser digerida tanto pelas crianças pequenas quanto pelas crianças grandes. Não traz grandes nuances em seus acontecimentos nem em sua narrativa e grandes diferenças em seu entendimento acabam sendo fruto dos pontos de vistas diferentes de quem o assistiu.

Luca, filme focado no menino que dá nome ao longa, é uma jovem criatura marinha que leva uma vida pacífica junto à sua família de criaturas marinhas antropomorfas, mas que nutre uma curiosidade crescente sobre a vida terrestre. Nos primeiros atos do filme somos imediatamente remetidos a antigos sucessos submarinos da Disney como A Pequena Sereia e Procurando Nemo. A ambientação subaquática lembra muito as paisagens de Nemo e a paixão de Luca pela superfície e os humanos lembram também das aventuras de Ariel. Mas logo a trama toma caminhos diferentes e, com Luca, acompanhamos a amável criança em sua descoberta do mundo terreno. 

Sua passagem rebelde para o mundo em terra seca não teria rolado sem Alberto, um amigo mais velho e órfão, que já se adaptou às ruas de uma pequena vila na Itália. Luca descobre que quando seu corpo está seco, ganha uma aparência humana, e quando se molha, volta para a aparência de criatura marinha (já dá pra imaginar que isso gera vários problemas para a dupla). Dessa forma, Luca e Alberto desbravam juntos várias novidades do mundo humano, somando-se em breve à essa aventura a jovem Giulia. Juntos, eles sonham em comprar uma Vespa para desbravar o resto do mundo, mas para isso, terão que vencer um torneio de velocidade. Tudo isso, claro, sem revelar suas verdadeiras identidades, principalmente quando toda a vila teme pelos supostos ataques das criaturas  marinhas e o próprio pai de Giulia é um caçador marinho. 

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Como de costume com as animações Disney/Pixar, terminamos de assistir Luca apaixonados por cada um de seus personagens. Principalmente pelo fato de serem crianças aprendendo a se comportar e conviver como humanos. O humor não é complexo ou profundo, sendo fácil de agradar aquele espectador mais desinteressado ou que busca um entretenimento fácil, mas podendo desagradar o espectador crânio; o longa conta com várias sequências de pura trapalhada, malabarismo e tombos, mas tudo isso não o deprecia, a temática é infantil afinal. Mas também tem ótimas piadas no mais clássico estilo Pixar; inclusive um dos personagens mais engraçados é uma espécie de tio do pavê lovecraftiano, que é engraçado e medonho ao mesmo tempo…um dos personagens mais bizarros da Disney.

A animação dispensa comentários. É entregue tudo aquilo que você já pode esperar de um padrão Pixar (as paisagens praianas são fotorrealistas e chegam a impressionar), mas com o diferencial que os desenhos são mais cartunescos e menos realistas, mas, ainda assim, riquíssimos em detalhes. Isso pode desagradar aquele espectador saudosista de um “desenho mais maduro”, mas, novamente, não pode ser citado como ponto para depreciar o longa.  A animação também entregou de forma caprichada a ambientação italiana, seus costumes, vestimentas e etnia.

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Algumas cenas típicas de animações modernas da grande Disney também estão presentes, como por exemplo, cenas onde os personagens são jogados do mundo real diretamente a um mundo etéreo/psicodélico, onde cenas oníricas são apresentadas em cores neon hipnotizantes. Outro traço moderno característico que aparece é uma conclusão não necessariamente feliz da trama; o desfecho não é triste ao mesmo tempo, simplesmente é real, palpável. Sou levado a pensar se o estúdio está buscando apresentar lições de moral antes que potencializem o amadurecimento psíquico saudável das crianças e apresentem situações realistas aos adultos, do que simplesmente finais satisfatoriamente felizes. Mas isso é assunto para outra oportunidade. 

E falando no desfecho antes realista do que feliz, infelizmente senti que o longa deveria passar mais tempo concluindo o arco de seus personagens, pois a conclusão é um tanto abrupta. Mas se esse pecado é cometido no último ato, não é o mesmo com o resto do longa, onde o tempo de tela é bem distribuído e cada um dos personagens tem sua própria história de fundo e motivações.

Alguns comentários sobre o longa apontaram para uma possível mensagem de representatividade LGBTQIA+ no filme. Nada disso é explícito no longa; a relação de Luca e Alberto, por mais próxima e carinhosa que seja, não dá a entender que seja uma relação romântica, embora também tenha todo o potencial de ser. Entretanto, existem sim mensagens sobre aceitação, sobre descoberta, sobre emancipação e a oportunidade de provar para outros que todos merecem seu lugar no mundo, não importa sua forma. Tais lições com certeza são de grande importância para todos, principalmente, então, para aqueles que por vezes não encontram aceitação e respeito dentro de seu próprio lar. Que Luca possa ser então um momento de conforto e inspiração, de descoberta de forças interiores para enfrentar um mundo tão hostil para aqueles que são “diferentes”. 

Outros assuntos diferentes, mas igualmente relevantes, são brevemente abordados no longa; assuntos que geralmente não vemos em longas da Disney, como por exemplo, a deficiência do pai de Giulia e o fato de ele ser separado da mãe da menina mas aparentemente levarem uma relação de mútuo respeito. Acredito que tais aspectos das diferentes condições humanas serão cada vez mais abordados no universo das animações, e com toda a razão. 

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Luca não é um clássico instantâneo da Disney, não se compara a títulos gigantes como Toy Story ou Monstros S. A. Muitos que o assistirem não irão gostar, entendo que a experiência não é para todos os paladares. Mas é uma aposta modesta, singela e intimista, fala de maneira lúdica sobre questões humanas, naturais a todos, e pode muito bem se encaixar no finalzinho de sua noite, antes de dormir. Quem sabe você até não se surpreenda. E se você enxergar em Luca um mensagem de inspiração para enfrentar qualquer forma de discriminação, você terá aproveitado o melhor do longa.

Sobre Emerson Dutra

Um psicólogo que tem o mundo nerd como seu guarda roupa para atravessar para uma Nárnia que é mais divertida, interessante e justa que nossa realidade compartilhada.

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