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Crítica: Maid – ★★★★☆ (2021)

(Reprodução)

Maid é a nova minissérie de sucesso da Netflix. Inspirada no livro de Stephanie Land “Maid: Hard Work, Low Pay, and a Mother’s Will to Survive”, a trama é focada na luta de uma mãe solteira, vítima de violência doméstica, que faz de tudo para dar o melhor para sua filha. Ao longo da série veremos os personagens complexos em situações um tanto quanto desafiadoras. A ideia de trabalhar a temática de violência doméstica não é novidade, porém, o desempenho de Margaret Qualley faz valer cada cena e com certeza o seu tempo.

A trama da minissérie é baseada na vida de Stephanie, que na minissérie é chamada de Alex, o que torna toda a história que vemos ser ainda mais pesada e emocionante. Tudo começa com Alex (Margaret Qualley) fugindo de um relacionamento abusivo com Sean (Nick Robinson), com quem tem uma filha, Maddy (Rylea Nevaeh Whittet), e se vendo diante do desafio de criar um filha, sem casa e sem dinheiro. A situação por si só já é angustiante, porém, a maneira como nos deparamos com cada desdobramento da vida de Alex, somos tomados por certa tristeza e raiva. A tarefa que recai sobre os ombros da protagonista é hercúlea e a cada momento que sua vida desaba, nos sentimos desabando com ela. Se vendo totalmente sem chão, Alex aceita trabalhar como faxineira para ganhar algum dinheiro. Para piorar, os pais de Alex são pessoas extemamente problemáticas e não conseguem ajudar sua filha sem deixá-la ainda mais traumatizada com tudo desmoronando a sua volta. A história não apresenta nenhuma novidade em si, mas seu maior acerto foi em como desenvolver. Cada episódio consegue fechar sua proposta e colocar Alex cada vez mais próxima de um abismo pessimista da própria vida.

O elenco foi muito bem selecionado, todos os personagens conseguem se relacionar de forma orgânica e apresentam excelentes interações. Os personagens são, com certeza, o ponto alto dessa minissérie. Quero até começar falando de Margarte Qualley, que vive a protagonista Alex, que entregou uma personagem incrível e totalmente crível. É impossível não se emocionar com a excelente interpretação da atriz e sentir com ela as dores da personagem. A atriz consegue nos transmitir as emoções de forma fascinante, e em muitos casos usando apenas os olhos, algo notável. Arrisco a dizer que ela carregou a minissérie nos ombros. Mas não é a única a brilhar, no geral, todos os atores entregam ótimos papeis. O marido de Alex, Sean (Nick Robinson) também é um ótimo personagem, apesar de ser uma pessoa desprezível. O ator consegue nos fazer odiar o personagem no inicio, e com o tempo, chegamos até a ter pena dele. Uma personagem que também se destaca é a mãe de Alex, Paula (Andie MacDowell), uma mulher que carrega traumas de uma vida sendo abusada por homens aproveitadores. A negação da personagem em encarar a realidade é digna de uma abordagem psicológica, e foi muito bem representada pela atriz. Em alguns momentos também sentimos um pouco de raiva das constantes mancadas com sua filha e neta, mas percebemos que isso é apenas um relfexo de uma pessoa que teve sua subjetividade totalmente roubada de si. 

Os cenários também foram muito bem escolhidos, as idas e vindas de barcas ajudam a criar um clima pesado e melancólico, que combinam totalmente com a proposta da série. Os cortes, sempre direcionando nossa atenção para a desigualdade vivida por Alex e sua filha, são muito bem executadas e tornam as cenas profundas e introspectivas, na maioria das vezes. A trilha sonora também me agradou, as músicas combinam com os momentos e criam o clima necessário para o dsenvolvimento da trama. Mesmo a proposta da série não sendo o visual, vemos o zelo com que a produção trabalhou para criar um ambiente plausível e agradável.

A violência doméstica é abordada de forma muito precisa na minissérie. Somos apresentados ao problema nas formas subjetivas que ele pode ocorrer, assim como nas possíveis soluções. Alex sofre de constante abuso psicológico, sendo submetida a situações de medo de ser agredida fisicamente, já que seu companheiro tem reflexos agressivos, além da angústia e desespero de como o cenário pode afetar sua filha. Na série somos apresentados ao que podemos chamar de roubo da subjetividade e de como a vítima pode ser manipulada pelo agressor a ponto de não conseguir reagir. Infelizmente, em muitos lugares, esse tipo de abuso não é reconhecido como uma violência doméstica em si e podemos observar esse ponto na dificuldade em que a personagem sente ao tentar provar o seu abuso diante do tribunal. Porém, Alex não só reage ao problema como parte em busca de soluções para fornecer o melhor para sua filha, mesmo que em alguns momentos as soluções beiram a humilhação. Com isso somos apresentados a diversos tipos de programas que auxiliam pessoas em situações análogas, algo muito útil, principalmente para o público do país em que a minissérie se passa.

Quando comecei a minissérie, não dei nada, mas após um ótimo começo, não consegui parar de ver. Em aspectos gerais, o maior ponto positivo da série é sem dúvida a atuação de Margaret Qualley, que com certeza merece um prêmio por sua atuação fascinante e muito imersiva. Se você curte drama, com alguns elementos de comédia, dê uma chance para essa série, não apenas pelo gênero, mas principalmente pelo desenvolvimento de sua proposta. Maid está disponível na Netflix e conta com 10 episódios de cerca de 50 minutos.

https://www.youtube.com/watch?v=M4nrGje_pyc

Sobre Carlos Valim

Apaixonado por cultura pop. Aprendendo a escrever críticas menos emocionadas. Professor de História e fundador do GS.

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