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Crítica: Meia-Noite no Hotel Pera Palace – 1ª Temporada ★★★☆☆ (2022)

(Reprodução)

Entre as novas produções da Netflix encontrei essa que me chamou atenção pela sua premissa e também seu visual, fiquei ainda mais intrigado ao descobrir que a série é original da Turquia. Minha experiência recente com uma produção turca me deixou um tanto desapontado, quis dar outra chance para ver se seria surpreendido por esta série, e foi o que aconteceu. A premissa de Meia-Noite no hotel Pera Palace é simples, começamos com a vida normal de Esra, que recebe a tarefa de escrever uma lista com os motivos para se hospedar no famoso Hotel Pera Palace, um hotel histórico de Istambul. Mas sua vida muda quando ela entra no quarto 411 e descobre que ele na verdade é um portal para o ano de 1919.

A premissa de viagem no tempo é intrigante o suficiente para manter a atenção do espectador nos mistérios e referências históricos que irá encontrar ao decorrer dos episódios. A forma como a narrativa se desenvolve é bem natural, conseguindo construir um ambiente bem agradável. O foco da série no início se da pelo fator investigativo, tentando desvendar um mistério que poderia implicar em consequências históricas muito perigosas.

O criador da série, Emre Şahin, toma várias iniciativas de explorar o mundo que Esra acabava de entrar, se preocupando em detalhar os ambientes com o máximo de historicidade possível. Mesmo sendo uma narrativa fantasiosa, você sente que o cenário tenta de fato transportá-lo no tempo e essa não é uma tarefa tão simples quando se trata de voltar no passado histórico, mas o filme consegue se sair bem com o resultado. Há algumas ressalvas no desenvolvimento, entretanto, no início o Sahin leva tempo demais construíndo o ambiente, dando um pano histórico para a trama, e até mesmo apresentando personagens importantes, o que acaba se tornando massante. E o pior nem é isso, após resolver tomar o rumo central da história para solucionar o mistério definitivo, a série não leva nem 2 episódios, além de entregar um plot twist totalmente na contra-mão de tudo que foi construído, mas que não deixa de fazer sentido.

Houve uma certa calma ao construir os elementos inciais da série, mas ao perceber que o tempo estava apertando, a resolução se perde em momentos clichês, de forma muito esdrúxula. Sabemos que o problema não é usar o clichê, mas sim usá-lo para tapar buracos narrativos sem dar a eles novas formas. As frases que eram para ser românticas, pareciam ter saído de páginas de frases sobre o amor, de tão decadente as sequências finais. Se o foco do filme permanecesse apenas na investigação, se sustentando no mistério principal, acredito que teria dado mais certo. A série deixa várias pontas sem amarrar, mas tudo indica que seguirá rumo para uma próxima temporada.

Embora o roteiro cometa deslizes, a atuação é boa o suficiente para ganhar nossa simpatia e nos fazer se importar com os personagens. No começo da série conhecemos Esra, vivida por Hazal Kaya, conhecida por seus papéis em Adını Feriha Koydum e Bizim Hikaye, ambas produções de drama. A atriz consegue fazer bom uso de suas expressões para dar vida a personagem, adotando posturas muito divertidas nos momentos certos na trama. Ela funciona como um alívio cômico, mas também inspira comportamentos progressistas, mesmo interagindo com os vários preconceitos do passado. Ela mentém um bom tom investigativo na série, mas se perde um pouco quando há a tentativa de empurrar uma construção romântica.

Outro personagem que se destaca pela sua participação e importância na trama é Halit, interpretado por Selahattin Paşalı, conhecido por Ask 101, uma comédia teen turca. O seu papel como par romântico de Esra é confuso e um pouco indecidido, como se o roteiro não soubesse ao certo o que queria para os dois. Essa forma de construir uma trama romântica me lembrou o esdrúxulo filme UFO, que também tropeça insistentemente nessa mesma tecla. Mas de forma geral o personagem é cativante e também ganha nossa simpatia pela boa atuação de Paşalı. Na série também conhecemos Ahmet, interpretado por Tansu Biçer de Ascensão Império Otomano também da Netflix, um misterioso zelador do hotel que sabe o segredo das viagens no tempo e que, coincidentemente, possui uma ligação com o destino de Esra. As atuações como um todo são boas e envolventes, de vez em quando surgem personagens fracos, mas não chegam a ser um problema.

O visual da série é bem impressionate, até coloco como um dos pontos mais chamativos. A forma como cada cenário é construído, transpõe muito bem a sensação de viagem temporal. A forma como as estruturas foram reproduzidas também conduzem a boas impressões, se mesclando muito bem com os personagens e as paisagens. Há poucos ambientes na série, mas o suficiente para entregar bons resultados de ambientação. A cena definitiva da temporada é muito boa, a escolha da trilha foi acertada, porém, se tivesse sido usado outras técnicas de captura para a sequência, poderia ter tido um resultado muito melhor. A velocidade com que a sequência acontece não combina com a forma que a música conduz.

Meia-Noite No Hotel Pera Palace é uma série para se entreter, sem criar grandes expectativas com explicações complexas sobre as viagens no tempo, ou uma trama extraordinária de tão envolvente. A série segue por um caminho bem simples e se arrisca a contar uma história interessante de uma forma até que diferente. Usa e abusa de clichês para se manter no final, mas graças ao carisma dos atores, encerra a produção com saldo positivo. Se você se interessou, Meia-Noite No Hotel Pera Palace está disponível na Netflix em sua 1ª temporada, com 8 episódios de 50 minutos.

Sobre Carlos Valim

Apaixonado por cultura pop. Aprendendo a escrever críticas menos emocionadas. Professor de História e fundador do GS.

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