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Crítica: Nove Desconhecidos – ★★★★★ (2021)

(Reprodução)

Nove Desconhecidos, ou Nine Perfect Strangers no original, foi a aposta da Amazon em um drama baseado no livro de mesmo nome, escrito por Liane Moriarty, sobre nove pessoas com vidas completamente diferentes que se reunem em um retiro de 10 dias em um tipo de local terapêutico chamado Tranquillum House. Lá eles descobrem muitos segredos sobre o local e sua anfitriã, a misteriosa russa, Masha (Nicole Kidman). A minissérie foi criada por David E. Kelley e John Henry Butterworth. Com uma premissa intrigante, a série irá tratar de temas polêmicos ao tempo que lança mão de uma abordagem um tanto quanto interessante sobre traumas e de como deve ser esse passo para a superação.

A trama da obra embora pareça simples no geral, a sua complexidade reside sobre cada personagem que passamos a conhecer ao longo dos episódios. De forma simples, o resort terapêutico tem como objetivo reunir pessoas completamente diferentes para que juntas possam se reconectar consigo mesmas através de métodos um tanto quanto surpreendentes: altas dosagens de alucinógenos. A trama se desenrola pelas fases da terapia proposta pela misteriosa Masha, que a todo instante nos deixa com a ideia de que está escondendo um grande segredo. Mas não apenas a anfitriã esconde segredos, cada pessoa que está no local também está envolta de seus próprios mistérios, todos aguardando pela solução miraculosa prometida por Masha. A trama é bem desenvolvida, com poucos momentos de entrave, que nem chego a considerar como negativos, as atuações e a química entre o elenco permitiu que tudo ocorresse de forma muito orgânica e natural.

E são nas atuações que temos o maior acerto desta série. Aqui vemos Kidman entregar uma atuação impecável, sua presença em cena é sempre marcante, mesmo o papel não sendo complexo, a atriz faz questão de deixar sua marca e tornar a personagem intrigante. Mas o mérito não é todo de Nicole Kidman, no elenco temos nomes de peso que contribuiram de forma significativa para um bom desenvolvimento da trama. Melissa McCarthy está ótima como a romancista Francis, que sofre com um bloqueio criativo após levar um golpe de um namorado. A atriz fica com a parte do alívio cômico ao longo dos episódios, sempre com comentários certeiros sobre as situações. Luke Evans também entrega um personagem interessante com boas camadas, que vão se revelando ao longo da série. Ele interpreta o personagem Lars Lee, um homem com intenções misteriosas acerca de Tranquillum. Um outro grande destaque é a família dos Marconi, com Asher Keddie, Grace Van Fatten e Michael Shannon interpretando Heather, Zoe e Napoleon respectivamente. A família carrega o peso do luto e sua ida até Tranquillum é em busca de um alívio que possa confortá-los da dor. Nas cenas com a família acompanhada da mentoria de Kidman, vemos os melhores momentos da série.

A abertura da série é mais um dos acertos, a escolha do tema e da sequência de imagens criou uma atmosfera psicodélica que combinou perfeitamente com a trama. Os aspectos visuais também são importantes e ajudam a criar essa atmosfera psicodélica. O ambiente onde a série foi realizada é espetacular, os cortes sempre valorizam a beleza natural do local e agregam muito ao visual. Em determinado ponto, é impossível não se ver no local de uma daquelas pessoas, desfrutando daquele espaço maravilhoso. A combinação de um trilha psicodélica e visuais maravilhosos contribuem significativamente para cativar quem assiste e se torna um grande ponto positivo. A representação das “viagens” psicodélicas também é satisfatória, mesmo em sua simplicidade, consegue entregar um bom resultado.

O luto, acredito que aqui temos a proposta principal da série de drama, que faz uso das variadas camadas de seus personagens para explorar os anseios mais íntimos com a natureza da perda, sendo representada de um extremo ao outro. Analisar o luto fora do âmbito psicológico é falar de sua cosntrução cultural ao longo de nossa existência e, como sabemos, a morte nos assombra desde tempos mais longínquos. Grande parte da filosofia foi baseada no medo da morte e na dúvida do que vem depois. E nisso a série cumpre bem seu propósito. Somos afetados pelos dramas dos personagens e arrastados com eles em seu mais profundo desespero, principalmente Masha, que possui o maior segredo a ser revelado. A tentativa da personagem em reunir esses desconhecidos, elaborar fases de um tratamento complexo para conseguir atingir um objetivo secreto é intrigante e mantém nossa atenção o tempo todo focada no drama dessa personagem.

Nove Desconhecidos não é revolucionária, tampouco a primeira a abordar esse tipo de narrativa. Entretanto, a série consegue nos surpreender pela solidez de sua narrativa e dinâmica incrível entre os personagens, que faz valer pela série toda. Eu não sou um grande fã desse gênero, comecei a assistir de tabela aqui em casa e logo me vi preso ao desenrolar dessa trama, simples, mas ao mesmo tempo complexa. Se você gosta de séries que exploram dramas pessoais dos personagens e que a cada episódio revela parte do mistério maior, guardado pro final, Nove Desconhecidos pode ser uma boa investida. A série tem 8 episódios, com cerca de 50 minutos de duração e está disponivel na Amazon Prime.

https://www.youtube.com/watch?v=ot0hyRszomg

Sobre Carlos Valim

Apaixonado por cultura pop. Aprendendo a escrever críticas menos emocionadas. Professor de História e fundador do GS.

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