O Beco do Pesadelo (Nightmare Alley), já se inicia dando o tom de como será a história. Em um primeiro momento vemos Stan (Bradley Cooper) carregando o que seria um corpo enrolado em um pano, jogando em um buraco no assoalho de uma casa e colocando fogo no lugar. De cara sabemos que nosso personagem tem uma moral questionável e que, agora em um ônibus, provavelmente está deixando sua vida para trás.
O novo filme do Del Toro é uma adaptação do livro O Beco das Ilusões Perdidas, livro de 1946, que foi adaptado para as telas no ano seguinte. Nessa adaptação, Del Toro demonstra de novo seu conhecimento e fascínio pelo cinema, mas dessa vez sai o sobrenatural e entra um cinema mais pé no chão, uma abordagem que ele já tentava se aproximar mesmo em um filme como a forma da água, mas lá tudo era muito açucarado para os temas que ele pretendia debater.
Aqui se entregando a um mundo mais concreto, o filme ganha um tom de sobriedade, mesmo na cena que vemos Stan chegando ao circo, o tom mágico que existe no lugar, logo dá lugar as charlatanices que os personagens precisam fazer para sobreviver. Del Toro dá espaço a um Estados Unidos em plena Segunda Guerra, não existe lugar para o sobrenatural e magia, o único monstro que existe é o homem nesse mundo, principalmente em um espaço que todos tentam sobreviver.
O filme se divide em duas partes, sendo a primeira o circo, tendo um tom quase mágico, como costuma haver nos filmes do Del Toro, mas tudo causado pelo fascínio que um circo pode causar, enquanto sua segunda parte se entrega ao noir, onde nossos personagens se encontram distante daqueles tempos simples e um tanto duros que permeiam a primeira parte do filme, carregados de beleza, mas também de ganância.
O circo é a parte em que o filme realmente brilha, seus personagens causam curiosidade, fascínio e repugnância, tem um tom muito próximo a inocência e amargura em seus filmes mais antigos. Willem Dafoe como Clem, um homem que além de cuidar das finanças do circo, apresenta o tenebroso show do homem “selvagem”, está espetacular como sempre. Toni Collette e David Strathairn fazem o casal de médiuns, que logo ensinam os pormenores da falcatrua de como “receber espíritos” e ler pessoas a Stan e temos Rooney Mara, que faz a doce Molly, uma garota inocente ao qual Stan nutre sentimentos.
Na segunda parte nos é apresentado Lilith Ritter (Cate Blanchett), como uma Femme Fatale, nos moldes dos classicos Noir, uma personagem que parece prestes a se enrolar como uma serpente em Stan. aqui toda a trama ganha um ar mais pessimistas e com varíos conflitos psicológicos, sendo a própria Lilith uma psicóloga. Nos é aprofundado os personagens e quase que nasce um novo filme a partir da segunda parte.
O ar infelizmente é um tanto plástico. Aqui tudo soa tão certo e correto, que parece que Del Toro simplesmente quis replicar tramas Noir, mas nunca se aproximando demais da trama com seus toques pessoais, soando um tanto quanto distante, parece não haver “paixão”. Ainda é uma boa história, contêm uma boa trama e ótimas atuações e direção, entretanto parece tão aquém do que nos foi apresentado que tudo pode soar pesaroso.
Levando em conta que o filme é um tanto lento, seu final pode soar corrido, como se o filme estivesse com pressa de chegar ao seu final, isso já se tratando de um filme de duas horas e meia, porém talvez minutos a mais seriam benéficos para o ritmo do final, que ainda assim é bem satisfatório na sua conclusão, mas que poderia ser melhor trabalhado na sua execução.
Não sendo o seu melhor filme, mas soando como um filme “mais” Del Toro que os seus últimos filmes e até mesmo bem mais maduro e diferente do que ele já havia feito, O Beco do Pesadelo é um filme que brilha na sua primeira metade e é satisfatório em toda o resto de sua duração, onde vemos Bradley Cooper brilhando ao lado de Cate Blanchett em uma trama envolvente onde moralidade, charlatanice e traumas são postas em cheque, tudo isso envolvido em uma aura única, mas que poderia ser melhor trabalhada se não fosse pelo seus poréns.