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Crítica: O Homem Água – ★★☆☆☆ (2021)

O Homem Água, dirigido por David Oyelowo, distribuído pela Netflix e estrelando Alfred Molina, é um filme típico das sessões da tarde da televisão aberta, que contém aventuras singelas e lúdicas de crianças carismáticas em busca de um objetivo altruísta. A adição da busca por uma criatura mítica que representa a possibilidade de curar a mãe do protagonista Gunner Booner de um câncer talvez seja sua principal aposta, mas também sua maior decepção.

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Gunner Boone é um menino que vive com sua mãe e seu padrasto. Sua mãe sofre de câncer e o conhecimento sobre a fatalidade da doença é tácito na família. O padrasto tem uma relação difícil com o menino, mas mais difícil ainda foi forçar as diferenças entre os dois no longa; elas simplesmente existem e a relação não é apresentada de maneira profunda. Algumas cenas onde isso é representado são quando o padrasto não aprecia a arte em quadrinhos que Gunner desenha com grande habilidade, ou quando é duro em relação aos sentimentos do enteado. Tão gratuitas quanto às causas desses problemas são também suas resoluções até o final do filme.

O menino se refugia em seus desenhos (tem uma incrível habilidade criativa e de desenho de histórias em quadrinhos) e também em livros de ciência e medicina na busca de compreender melhor a doença da mãe. Esses são também detalhes soltos no filme que incomodam; a habilidade criatividade dele é esquecida durante o filme todo, sua habilidade nos quadrinhos não servem para nada no enredo, apenas para uma explicação fraca e rápida sobre a criatura mítica, o Homem Água (decepcionando na revelação mais aguardada durante o longa). Sua inteligência muito acima da média também é muito incoerente: numa cena ele é capaz de corrigir o trabalho de uma enfermeira e na outra entra numa jornada arriscando a vida por uma criatura mitológica, além de ser liderado nessa aventura por uma outra criança que finge saber encontrá-lo.

A criança superdotada que segue métodos nada científicos, busca pelo autor de notas aleatórias num livro antigo sobre o tal Homem Água. O autor das notas, Jim, o personagem de Alfred Molina, é interessante e bem interpretado, podendo ter mais tempo de tela, como uma espécie de professor sábio que realmente poderia guiar as crianças na aventura. Mas ele é procurado apenas no início da aventura e dá várias advertências ao menino, que também não acrescentam muito à áurea mística do conceito do Homem Água.

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Temos como outra protagonista Jo, que parece ser uma traficante de informações sobre o Homem Água. Ela vive nas ruas e é órfã, mas parece ser uma criança muito normal para essas condições. Sua história não é nada trabalhada. O grande triunfo acaba sendo a interação entre ela e Gunner em aventuras típicas do citado programa vespertino da televisão aberta. Mas essa relação entre um jovem que embarca numa aventura guiado por uma farsante que tem seus motivos pessoais também não é novidade (um exemplo de trama semelhante é Bolt, da Disney). Na aventura, Gunner carrega uma espécie de amuleto, que é uma espada de seu padrasto, mas esse amuleto não tem absolutamente nenhum significado atribuído a ele e nenhum acréscimo na história, podendo ter sido facilmente substituído por… bem, qualquer coisa.

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Apesar disso, até os momentos mais perigosos da aventura conseguem te deixar com vontade que acabem logo. Numa cena de grande perigo e urgência Gunner fica pendurado num tronco acima de uma fatal queda de um metro num pequeno córrego. Numa cena final, existe um incêndio na floresta, tão preocupante que os protagonistas param por alguns minutos no meio dele para criar (aos gritos) sua estratégia para escapar do wallpaper em chamas atrás deles, enquanto que na sua frente, não existe fogo algum.

E por último a revelação sobre a existência ou não do Homem Água é muito decepcionante. Se o roteiro tivesse investido significados enriquecedores para a trama e os personagens, a revelação poderia ter sido mais impactante. Mas como existem várias pontas soltas, o impacto buscado foi fraquíssimo, juntamente com as cenas finais, onde Gunner e Jo se encontram novamente com sua família. 

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O Homem Água é um filme leve, mas talvez tão leve que não tem peso e significado nenhum, mal podemos obter alguma mensagem ou lição dele. O filme tinha potencial, apostando em temas garantidos, cartas marcadas para cativar o público,  como o câncer e a fatal proximidade da morte da mãe de Gunner, mas consegue a proeza de falhar mesmo com essas cartas marcadas. Uma decepção para a criança interior que habita em todos.

Sobre Emerson Dutra

Um psicólogo que tem o mundo nerd como seu guarda roupa para atravessar para uma Nárnia que é mais divertida, interessante e justa que nossa realidade compartilhada.

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