Pacificador termina seu primeiro ano com a garantia de uma continuação, mas será que o primeiro ano foi tão bom assim? James Gunn parte de uma receita simples: violência, piadas ácidas e um dramalhão familiar para manter a série num mesmo tom até o final. E isso funciona sem muitos esforços ou tentativas de agradar o espectador com fan-services ou easter eggs apelativos.
O lançamento da série foi um pouco diferente dos habituais, lançaram três episódios de uma vez e depois um episódio por semana. E isso impactou muito na recepção da série. Os dois primeiros episódios introduzem o espectador na trama geral e apresenta os personagens, e mais que isso: fixam o tom da série com um tipo de comédia que caminha entre humor ácido e humor físico envolvendo algum tipo de violência ou acidente. Mas no terceiro episódio que a série apresenta um tom mais “original”, envolvendo os espectadores na trama maior e nas subtramas dos personagens.
Com uma alavancada nos episódios que preparam a série para o final, alguns personagens/atores se destacam, como Robert Patrick (Dragão Branco) e seu culto eugenista, Danielle Brooks (Adebayo) que se vê perdida entre o que é certo e o que sua mãe quer para ela e Freddie Stroma (Vingador) que protagonisa os melhores-piores diálogos. E com tanta coisa acontecendo, Pacificador consegue encaixar um romance e um dramalhão pessoal para o protagonista. Felizmente o romance não evolui e, assim, não afeta a série. Já o dramalhão nos faz entender os motivos do personagem matar em nome da paz e sua relação com seu pai.
Seria injusto não dar nomes aos responsáveis pelo sucesso da série, começando com James Gunn que repete o mesmo estilo de direção usado em O esquadrão Suicida (2021), com muita violência explícita e cenas de combate bem dirigidas, com o grande destaque para a luta final. Outro nome que carrega a série é John Cena, que não tem nada de excepcional a primeira vista, mas vai se mostrando um ator capaz de entregar um persinagem violento e carregado de drama, mesmo que se pareça com uma caricatura algumas vezes.
Mas afinal, qual o grande trunfo de Pacificador? Entre os motivos que fazem da série um sucesso, podemos listar três fatores: a janela de lançamentos da Marvel. Com a falta de concorrência direta, Pacificador se destaca, pois é difícil uma obra da DC competir com a Marvel em termos de engajamento e reverberação nas redes sociais (o parâmetro de sucesso da atualidade). Outro motivo são os personagens, a maioria ali sustenta o tempo de tela, até mesmo Chukwudi Iwuji (Murn) que é um personagem mais “paradão” em relação aos outros e que, no fim, tem uma ou outra reviravolta que faz valer a pena acompanhar o personagem.
Por último é a trama. Sem vilões de nível interestelar, os vilões tem corpos humanos e um objetivo crível. A série constrói a trama principal de modo que o último episódio é a resolução, sem ganchos para continuação ou com aberturas forçadas de multiversos. As subtramas seguem o ritmo da trama principal, e acabam sendo, às vezes, melhores que a trama principal.
Uma trama simples, um grupo de personagens cativantes e a falta de concorrência garantem a Pacificador uma primeira temporada com muitos altos e poucos baixos. Entre os pontos baixos, temos a redenção do Pacificador que é um evento sem necessidade, mas esperado por qualquer pessoa que acompanhou os matriais de divulgação. Não precisava disso na série, mas é um gancho para que o herói enfrentasse seu passado e seu pai.
Outro ponto desfavorável é a mudança de tom no meio da série, depois de quatro episódios de humor e violência, a série se abre para o drama, muda o tom e as interpretações, em especial John Cena, que busca entregar um herói em rendenção e superação de um passado traumático.
Pacificador é uma série simples, mas bem executada, os pontos baixos não fazem dela uma série ruim, mas dão personalidade tanto para a série, quanto para os personagens. Pacificador está disponível no streaming HBO-Max.