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Crítica: Raised by Wolves – 2ª Temporada ★★★★★ (2022)

(Reprodução)

A série de ficção científica visionária original HBO Max, Raised by Wolves, retorna em uma segunda temporada ainda mais envolvente que a primeira, criando uma sensação de novidade, sem abrir mão de sua característica mais interessante, as reflexões. Após um final simplesmente épico da primeira parte, abrindo margem para possibilidades extremamente impactantes, a segunda temporada da sequência a alguns eventos, enquanto mantém em segredo outros. Esse mistério ao descobrir as camadas da trama é um dos pontos mais bem trabalhados nesta segunda parte, colocando os personagens que já estavam carregados de problemas para resolver, tendo que lidar com os novos que surgiram e que podem se conectar de algum modo.

A nova comunidade ateia que vemos surgir na série é um bom contraponto com os primeiros episódios, que exploravam mais a seita dos Mitraicos. Somos apresentados ao Íntegro, uma IA programada para tornar viável a colonização do planeta e o futuro da humanidade. Os personagens da série se mantém interessantes, e quando confrontados com as novas problemáticas, reagem bem e evoluem de maneira natural. O grande ponto dessa segunda temporada é a evolução e crescimento (literalmente) do elenco de personagens. Campion, por exemplo, é sem dúvida o personagem mais marcante desta série.

Na história seguimos a partir dos acontecimentos que encerram magistralmente a primeira temporada, novas ameaças surgem e as antigas se renovam. A partir do momento que Mãe e Pai contemplam o resultado de seus esforços para impedir o crescimento da nova criatura, seus filhos são surpreendidos por uma nova colônia de seres humanos, mas desta vez, de ateus. O grupo consegue se juntar novamente e começam a se envolver nesta nova comunidade, construindo uma nova vida. Nesta nova comunidade, vemos diversas características interessantes na forma de se organizarem, colocando os humanos para trabalhrem de forma coletiva, se ajudando. Mesmo em uma comunidade de ateus, há ainda aqueles que se voltam para as antigas crenças e cultuam secretamente Sol. Neste caminho, também teremos um crescimento do antagonista da série, líder do culto de religiosos rebeldes.

As reflexões sobre natureza humana seguem o padrão da primeira temporada, dessa vez abrangendo a convivência do coletivo e os desafios de liderar em meio a divergências de opiniões. Os acontecimentos carregam um peso moral em suas intenções. Também vemos desenvolver os questionamentos acerca da humanidade que Mãe e Pai começam a sentir e os rumos que isso pode os levar. Esse aspecto, embora desenvolvido de forma singela, reforça o pensamento de que Raised by Wolves é, na verdade, uma narrativa sobre os andróides aprendendo a serem humanos, enquanto lidam para garantir a sobreviência de uma colônia. As reações e pensamentos de Campion acerca da moralidade de se compreender a existência dos andróides como seres livres e capazes de sentir e se relacionar  é intrigante e aprofunda a reflexão sobre o tema. Tão intrigante quanto a insistente narrativa que envolve a crença em uma divindade, apresentada como Sol e seus seguidores inevitáveis. No entanto, nesta temporada o desenvolvimento desse lado religioso caminha por vias diferentes, alimentando este que pode ser o mistério que fundamenta a série.

Mesmo havendo muitas pontas soltas da primeira temporada para serem amarradas, o roteiro optou por inserir novos cenários, expandindo mais ainda as possibilidades para explicar os acontecimentos. A cobra, filha da Mãe, é desenvolvida nesta temporada no ritmo certo, seu desfecho é intrigante e devido a ele, somos colocados sob uma nova perspectiva para os acontecimetnos. A voz de Sol, ou melhor, o sinal que é emitido pelo planeta é desenvolvido de forma mais lenta, deixando claro que se trata do maior mistério da série, que ainda renderá muitas reviravoltas. Há também uma nova personagem que irá influenciar em muito o rumo das decisões tomadas nos últimos episódios. Essa nova personagem abre margem para ainda mais mistérios envolvendo o planeta e aqueles que já viveram nele.

As atuações da série seguem impecáveis, mantendo os personagens carismáticos e interessantes. A forma como os personagens são desenvolvidos é um outro ponto alto desta série, cada um deles carrega um drama próprio muito orgânico e que, graças as boas atuações, conseguem nos cativar. Amanda Collin segue brilhante em sua interpretação da passional Mãe, que nesta temporada terá de lidar com muitos sentimentos complexos, que a levará a tomar atitudes extremamente impactantes. A atriz mantém sua ótima performance, com uma intepretação perfeita da andróide. Assim como Abubakar Salim, o Pai, que nesta temporada irá se confrontar com sentimentos de natureza desconhecida, além de realizar a descoberta que trará o desfecho sombrio da série.

O personagem que mais se destaca na segunda temporada, ao meu ver, é sem dúvida Campion, interpretado por Winta McGrath. O crescimento não só do ator, como também do personagem, tornou a interpretação de McGrath ainda mais densa, sendo desenvolvido de forma brilhante. Sua importância para a sobrevivência da humanidade e o seu futuro começa a ficar cada vez mais evidente. O garoto passará por grandes apertos nesta temporada, mas irá amadurecer com esses acontecimetnos e nos demonstrar reações intrigantes. Sua conexão com os andróides e seu amor por eles é notável e conduz a trama de forma muito interessante.

Os efeitos visuais evoluem nessa nova temporada, nos apresentando a nova região do planeta, que foi muito comentada na temporada anterior. A evolução do ambiente é percebida aos poucos, sendo introduzidas características muito imersivas deste novo local. Há novas vegetações, um novo clima, um mar ácido, novas criaturas, além dos novos mistérios que irão dar vida a este novo cenário. Tudo se encaixa perfeitamente, mantendo a sintonia entre os elementos da produção, cada detalhe sendo introduzido no tempo certo e preciso.

A forma como as cenas são conduzidas são mais uma vez, um grande mérito da produção, com ótimas sequências de paisagens e também de diálogos. Uma das cenas que me marcou bastante é o embate de uma nova andróide, apresentada com a descoberta da colônia, com seguidores de Markus, que passa o início da temporada tentando refazer sua seita. A sequência desse confronto é, no mínimo, satisfatória. Outra cena que quero mencionar, sem dar spoilers, é o desfecho sombrio que irá cair sobre Sue, este evento vai desencadear os acontecimetnos finais da temporada e foi muito bem realizado.

Raised by Wolves mantém a excelente qualidade da primeira temporada, introduzindo novos elementos importantes na nova parte, sem deixar de lado os mistérios que já haviam sido introduzidos. Seu roteiro é desenvolvido de forma muito bem planejada, dando a entender que todos os eventos serão interligados de forma satisfatória em algum momento. O elenco, agora mais crescido na parte das crianças, segue entregando um trabalho formidável e extremamente imersivo, cativando o espectador. A parte visual tem avanços notáveis e segue melhorando progressivamente.

Raised by Wolves é, sem dúvida, a melhor série de ficção científica da atualidade, entregando um conjunto de ótimas características, que tornam esta obra excelente. A série está disponível na HBO Max em 2 temporadas, com um total de 18 episódios, de cerca de 50 minutos.

https://www.youtube.com/watch?v=R6Kqm0qJ9Uc

Sobre Carlos Valim

Apaixonado por cultura pop. Aprendendo a escrever críticas menos emocionadas. Professor de História e fundador do GS.

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