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Crítica: Santo Maldito – 1ª Temporada ★★★★☆ (2023)

(Reprodução)

Chegou no catálogo da Star+ a nova série brasileira Santo Maldito que, de primeiro momento, não parecia ser grande coisa, mas logo percebi que se tratava de uma pérola nacional. Na trama da série vamos acompanhar um professor ateu, que devido as condições imprevistas em sua vida, se vê realizando cultos evangélicos em uma igreja na periferia.

A narrativa é bem original, com elementos bem característicos que são muito bem aproveitados na construção do ambiente da série, tornando a experiência muito imersiva. O elenco faz um trabalho espetacular que me impressionou muito e, mesmo com os altos e baixos do roteiro, consegue extrair o melhor das performances.

Acompanhamos Reinaldo, um professor e intelectual ateu, que se vê diante de uma situação delicada em sua vida: sua esposa entra em estado vegetativo após um acidente. Reinaldo então decide acabar com o sofrimento de sua esposa, mas o que acontece é o inverso, ela recupera instantaneamente a consciência, voltando do coma.O que Reinaldo não poderia imaginar é que um fiel de uma igreja filma esse momento e mostra o vídeo para seu pastor, Samuel. Convencido que estava diante de um milagre, Samuel oferece tudo que tem para que Reinaldo venha pregar em sua igreja. Com isso, Reinaldo vai iniciar uma jornada de autoconhecimento, que colocará em xeque a imagem que construiu ao longo dos anos como pai, marido e intelectual, mas que pode revelar segredos importantes sobre sua vida.

A proposta narrativa da série é extremamente envolvente. Esse tipo de questionamento entre fé e razão sempre me atraiu muito, e a maneira como a série trabalha esses conceitos é muito satisfatório. A narrativa adiciona elementos mais próximos de nossa cultura, que estão enraizados na maneira como a religião se estabelece no Brasil, além de também acrescentar elementos mais complexos como formação de seitas de fanáticos, o que torna tudo ainda mais interessante. Assistir um intelectual ateu ser arrastado para o caminho da fé através de uma perspectiva bem singular é muito envolvente. O roteiro teve alguns momentos de baixa, mas se manteve ótimo na maior parte do tempo, construindo muito bem os acontecimentos.

O ponto mais alto da série é o nível espetacular de interpretação do roteiro, que se doa completamente nos personagens, nos envolvendo com cada um deles e suas motivações internas. Nenhum personagem na série parece desproposital, incluídos apenas para catalisar acontecimentos que dão seguimento na trama. Cada personagem é muito bem estabelecido dentro da narrativa, com um papel importante a desempenhar que mais tarde irá se cruzar com a trama principal.

Reinaldo é interpretado por Felipe Camargo, que está ótimo no papel, com um personagem repleto de camadas e com uma personalidade muito contagiante. Maria Clara, esposa de Reinaldo, é vivida por Ana Flávia Cavalcanti, que tem ótimos momentos na personagem, mesmo que envolvida na parte mais baixa do roteiro, consegue segurar bem a performance. O pastor Samuel de Augusto Madeira é muito convincente, sendo uma performance muito marcante na série. As cenas com seu persoangem são misteriosas e profundas, criando uma atmosfera de fé muito envolvente.

As demais atuações da série seguem um padrão muito bom, com atores entregando personagens com motivações próprias que se encaixam muito bem no desenvolvimento da trama. Todo o elenco parecia estar envolvido com a produção de forma muito criativa e pessoal.

A direção da série ficou sob o comando de Gustavo Bonafé, que acertou em cheio na construção da parte visual. Desde os cenários até os cortes precisos da câmera, a série entrega um resultado impressionante. É possível perceber a dramaticidade de cada momento graças ao ótimo trabalho técnico realizado. Por mais que o roteiro tenha seu momento mais fraco, os outros elementos conseguem segurar as pontas e manter o ótimo nível da produção. Sem dúvida esta série entrou para o top série brasileiras mais bem executadas.

Santo Maldito é o que o nome diz, uma viagem de encontro com o misterioso, a captura do salto de fé, ao completo absurdo da existência. A narrativa é recheada de surpresas, mantendo um suspense muito bem construído e com poucos momentos fracos. O drama dos personagens é muito bem aproveitado graças ao elenco que sabia exatamente o que fazer com cada personagem em cena. A direção de Bonafé incorpora o necessário para tornar a experiência ainda mais dramática e profunda, colocando-nos diante do abismo que o protagonista também se encontra: entre a fé e a razão. Uma série necessária para qualquer brasileiro, pois prova ainda mais, o nível das produções nacionais. Um questionamento sobre quem somos, construído da forma mais brasileira possível, vale o seu tempo.

A primeira temporada de Santo Maldito está disponível na Star+.

Sobre Carlos Valim

Apaixonado por cultura pop. Aprendendo a escrever críticas menos emocionadas. Professor de História e fundador do GS.

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