A aposta da Marvel, mirando a diversidade e o público chinês, com Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis, foi um tiro certeiro na renovação dentro do que já conhecemos.
A nova fase da Marvel, no cinema, veio com Viúva Negra, que acabou sendo um filme fora do tempo e deslocado, com muitos pontos baixos, em relação aos pontos altos que esperávamos. Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis chega mostrando o que é a fase 4 do UCM nos cinemas. Com atores novos e pouca coisa reciclada, de atores à eventos Marvel, muito pouco é reutilizado. Até as menções ao próprio universo foram reduzidas para dar destaque a Shang e sua aventura, sendo esta a melhor decisão da Marvel na fase 4 (aqui, incluindo as séries e a animação What if…?).
Em Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis, temos um elenco que se destaca em todos os lados, Simu Liu (Shang-Chi) e Awkwafina (Katy) são dois amigos com muita química, a atuação de ambos deixa a sensação de amizade de longa data, eles se completam e se entendem, a nível de comparação, são como Peter Parker e Ned, mas com uma química que funciona. Isso sem falar que, logo nos primeiros quarenta minutos de tela, nós espectadores já somos apresentados ao potencial da dupla (que é fundamental para o fechamento da trama no final do filme).
Outros destaques em tela vão para Tony Leung (Mandarim), Fala Chen (Leiko Wu) e Michelle Yeoh (Jiang Nan) que formam o núcleo de artes marciais, e todos estão muito bem, passando uma vibe de filme de kung-fu dos anos 90-2000, com muita ação e golpes que demandam um nível absurdo de habilidade. Um personagem que merecia mais destaque, mas deve voltar nas produções Marvel, é o vilão Razor Fist (Florian Munteanu), que protagoniza a luta no ônibus. E há um destaque desonroso para o filme que vai para Ben Kingsley (o Mandarim de Homem de Ferro 3), que está no filme como um alívio cômico e, também, como uma autocrítica ao personagem do filme de 2013.
Quanto aos aspectos técnicos, as coreografias de lutas são excepcionais! A luta no ônibus é a melhor cena do filme, a trilha sonora dessa cena é um beat que lembra a trilha sonora de Street of Rage (o jogo de videogame, e se você conhece o jogo sabe do que eu estou falando). As acrobacias dentro do ônibus e o jogo de ângulos e câmeras, fazem desta cena uma maravilha de se assistir. As músicas e trilhas sonoras do filme, não deixam a desejar, a cena do estacionamento, tem uma das melhores trilhas, que mesclada à cena, mostram o bom trabalho de Destin Cretton, o diretor do filme.
E mesmo não se esforçando para nos lembrar que Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis é um filme da Marvel, em alguns momentos isso acontece, como quando citam o blip ou quando Wong aparece. E essas são as poucas cenas que o filme nos diz “ei, isso é um filme Marvel”, as outras cenas que nos remetem a isso estão no pós-crédito, e são cenas que dizem muito sobre o destino de Shang e da fase 4, dando uma importância aos Anéis e para o Dr. Estranho (personagem central da fase 4, por enquanto).
E mesmo sendo um filme com rostos novos, uma dinâmica muito agradável e cenas de ação que nos levam para o tempo áureo das artes marciais no cinema, Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis decepciona no terceiro ato, com as cenas que se passam antes da grande batalha, são momentos tediosos e com piadas ou dramalhões que encorpam o filme, mas entediam o espectador. Entretanto, isso tudo é compensado com uma batalha gigantesca de GCIs, efeitos práticos, dublês e muita ação. O ato final é de pura ação, o confronto entre Shang e Mandarim é fantástico, os Dez Anéis (que não são literalmente anéis) se moldam de acordo com a luta, tornando tudo, visualmente, intenso e bem desenvolvido. A luta contra os Sugadores de alma e os dragões é talvez onde os efeitos digitais mais se mostram competentes – padrão Marvel. E o final é aceitável, mesmo um humano enfrentando uma criatura gigante, não acontece uma explosão de poder descomunal por parte do herói (algo presente nos filmes da DC), aqui temos um Deus Ex-Machina que é aceitável dentro do UCM.
Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis é um filme de chamado do herói, mas o herói está preparado e pronto para o que der e vier. Além de ser um prato cheio para servir como pontapé para a fase 4 (se não considerarmos a prequela com a Viúva Negra). O filme está nos cinemas, sem uma previsão para versões VOD ou Streaming.