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Crítica: Sorte de Quem? ★★★★★ (2022)

(Reprodução)

A Netflix acrescentou um novo longa de suspense em seu catálogo, Sorte de Quem?, que tem tudo para conquistar o público: uma boa história, bem desenvolvida, um bom elenco e um desfecho inesperado e impactante. O longa segue um casal bilionário, que decide ir para sua casa de veraneio passar uns dias e, quando chegam lá, descobrem que uma pessoa estava invadindo a casa. Os três passam então a negociar um acordo para que a situação se encerre o quanto antes. A sinopse do filme o descreve como um suspense hitchcockiano, o que ficará muito evidente para quem já possuí um contato maior com as obras do icônico diretor. Mas conhecer o gênero e as obras de Hitchcock é completamente dispensável para você se entreter com o filme, que consegue caminhar com as próprias pernas.

Embora a premissa seja de uma certa simplicidade, a forma como o diretor Charlie McDowell escolhe conduzir a trama é muito acertada, explorando diversos momentos pra lá de diferentes, tornando a narrativa muito envolvente. Os personagens são bem interpretados pelo elenco, o que deixa o desenvolvimento ainda mais interessante.

Após encontrarem, ou serem encontrados pelo assaltante, o casal e ele começam a criar sequências de diálogos muito envolventes. A personalidade dos personagens começa a ser transposta de forma gradual, cada um vai se expondo a medida que a trama avança e a situação toma rumos inesperados. O longa se passa apenas na casa de veraneio, com os personagens conversando a maior parte do tempo entre eles, não há flashbacks, nem qualquer tipo de corte que saia desse ambiente. No começo do encontro, o casal se mostra totalmente entediado com o assalto, principalmente pelas características do assaltante que, em certos momentos, não parecia muito bem saber o que estava fazendo. Esse fator contribui para um elemento de humor mais ácido, que está sempre resguardado em uma possibilidade de algo impactante acontecer a qualquer momento.

A medida que o tempo passa, o tédio do casal começa a ficar ainda mais evidente, assim como o desespero do assaltante, que não esperava que as coisas acontecessem desta forma. Conforme os diálogo avançam, vamos descobrindo mais sobre cada personagem, mas nunca o suficiente para sanar nossa curiosidade principal sobre os acontecimentos. Diversas questões são levantadas, mas nunca respondidas de forma total. Esses elemetnos contribuem para deixar a trama envolvente, deixando o espectador criar as mais diversas teorias sobre o que viria a seguir, para finalmente ser surpreendido com um final diferente.

A escolha do elenco para viver os personagens dessa trama bizarra é mais do que acertada, graças a interpretação dos atores, tivemos um resultado surpreendente. Apostar em nomes conhecidos não é apenas mais fácil de fazer o público simpatizar com os personagens, mas também explora os limites criativos desses atores. O CEO bilionário do filme, que curiosamente não possui um nome, é interpretado por Jesse Plemons (Ataque dos Cães, Espíritos Obscuros), um ator já bem conhecido pelo público. A interpretação de Plemons do bilionários é muito boa, conseguindo transpor os diversos momentos que a trama segue, expondo aos poucos a verdadeira personalidade do personagem.

A esposa do CEO é vivida por Lily Collins (Emily em Paris), que ganha completamente nossa atenção a medida que a trama se desenvolve. A atriz consegue passar com tranquilidade as emoções da personagem, indo do tédio no começo, até o choque completo a medida que o filme caminha para o seu final. A personagem de Collins possui várias camadas, que são expostas aos poucos, o que deixa a personagem bem interessante em relação aos outros, principalmente no desfecho, que pode te surpreender. Já o assaltante, é interpretado por Jason Segell (How I Met Your Mother), que consegue entregar um personagem muito carismático e divertido, nos remetendo um pouco a esses assaltos com ladrões atrapalhados. O personagem de Segel é misterioso e as intenções do assalto se mantém um segredo até o desfecho do filme, em que nos é revelado alguns detalhes.

A direção de Charlie McDowell é extremamente precisa na forma de conduzir o longa, tornando as cenas muito cativantes, com acontecimentos diferenciados, que atraem nossa atenção para os detalhes do que está rolando. O diretor faz diversas escolhas criativas estranhas que combinam brilhantemente, entregando um resultado muito positivo e divertido. Há diversos momentos no filme que o tornam marcante, como a cena em que os três se sentam para resolver a quantidade de dinheiro que dariam para o assaltante para que ele fosse embora. A cena é marcada por diálogos ácidos, com um humor bem peculiar, expondo a personalidade dos personagens para o espectador. Outra sequência muito diferente do longa é quando rola um certo tipo de perseguição na plantação de laranjas, essa cena fica marcada pelo humor aplicado nela.

A fotografia do filme contribui para esse clima mais intimista que a trama nos leva, explorando as paisagens e também os ambientes de forma a nos deixar questionando sobre o que de fato está acontecendo ali. Os detalhes são escassos, mas podem ser captados pelo ambiente e pela forma como os personagens interagem, o que faz o longa ser muito interessante. A trilha sonora também acerta em nos levar para referências a filmes mais antigos do gênero, além de dar um tom muito certeiro ao longa, mesclando o suspense com um certo tipo de humor. O resultado das técnicas aplicadas pela produção é muito positivo, e tornam o filme muito envolvente.

Sorte de Quem? é, com certeza, um dos destaques da Netflix desse mês de março, o longa explora muito bem elementos diversos, que combinam perfeitamente, entregando um ótimo resultado. A direção de McDowell é acertada, conseguindo captar sensações diversas e criando um suspense muito convincente e, principalmente, inesperado. O elenco é outro ponto acertado do filme, com ótimas interpretações de personagens simples, mas ao mesmo tempo complexos. Se você gosta de filmes de suspense, com certeza deve dar play neste filme. A trama tem um ótimo desenvolvimento e um final pra lá de diferente. Sorte de Quem? está disponível na Netflix e tem 1h32 de duração, que passam rápido demais graças a suas características envolventes.

Sobre Carlos Valim

Apaixonado por cultura pop. Aprendendo a escrever críticas menos emocionadas. Professor de História e fundador do GS.

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2 Comentarios

  1. Brincadeira comparar com suspenses de Hitchcock. Não chega nem aos pés. Filme chatíssimo.

  2. Alexandre Figueiredo

    O filme é interessante, sobretudo, na forma inusitada da condução do assalto. Vale uma conferida.

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