Mostrando que este ano as obras que levam o selo DC estão com tudo, a estréia de Sandman, na Netflix, foi uma das mais prazeirosas de acompanhar. A série foi top 1 em 80 países, fazendo Neil Gaiman comemorar publicamente no Twitter. Obviamente que isso não significa que a série é impecável ou superior a tudo já lançado na plataforma, esses números mostram mais sobre o hype em torno da série, do que sua qualidade.
A série se divide em dois momentos, um “road movie” do ep. 1 ao ep. 6, se transformando em uma aventura sequêncial, até o ep. 10. Essas escolhas são muito bem trabalhadas, a passagem de road movie para uma história sequêncial é leve e dotada de sentido, não quebrando o ritmo ou proposta da série. Entretanto a segunda parte da série deixa a desejar, os personagens não são interessantes, incluindo Rose Walker, o Vórtice dos sonhos, interpretada pela atriz Kyo Ra. E a crítica tecida aqui não é para o arco Vórtice dos sonhos, mas sim para o desenvolvimento dos personagem em torno de Rose. Os momentos finais, do arco, não da série, foram cansativos, recheados pela sensação de “poder da amizade”. Mesmo com bons e ótimos momentos dentro do arco, este foi o momento mais doloroso da série.
Apontado o maior “problema” da série, cabe aqui os elogios. Tom Sturridge, Sonho, conesegue segurar um personagem enigmático e imponente durante boa parte da série, sendo um personagem ótimo de acompanhar. A relação de Sonho com seus comapnheiros evolui de uma maneira orgânica, Sonho deixa o papel de um líder totalitário do Reino do Sonhar, para um líder mais humano. Isso tudo depois de um arco de redenção (ou evolução) que incluem dois episódios: o episódio com a Morte e o episódio The Sound of Her Wings (episódio 6). Nos dois episódios as dicussões sobre a vida e morte e os anseios pela vida são debatidos de forma magistral, incluindo as discussões sobre o papel de cada um em cada lugar. Sendo os episódios com as melhores construções de personagens.
O roteiro só deixa a desejar no arco Vótice dos Sonhos, o desenrolar tedioso e arrastado deixam cicatrizes na série. Entretanto os outros mini-arcos da série (principalemten os momentos road movie) são fantásticos. Alguns momentos deixam o gostinho de quero mais, inclusive a batalha com Lúcifer, e seu desenrolar. Em uma época de roteiros ruins e péssimas adaptações, Sandman sabe como contar uma história, a participação de Neil Gaiman com os produtores executivos Allan Heinberg e David Goyer, é, talvez, um dos melhores roteiros dentro do catálogo da Netflix.
O visual é fantástico, mesmo o CGI “parecendo CGI”, o que não afeta negativamente a série. As cenas no Reino do Sonhar ou quando Sonho usa as areias são os momentos em que o CGI mais é perceptível, porém, as escolhas de cortes, cenários e iluminação fazem algumas cenas obras de arte, principalmente as que são inspirações diretas dos quadrinhos. E se o visual é deslumbrante, a sonoplastia não deixa a desejar. A trilha sonora e os efeitos de áudio são fantásticos, com destaque para os efeitos da areia. a trilha sonora é composta por David Buckley, escolhido a dedo por Gaiman.
Sandman não inova, mas utiliza bem as ferramentas a sua disposição. As atuações são entregues com muito esmero, em especial Vivienne Acheampong, que interpreta Lucienne, o braço-direito de Sandman no mundo dos sonhos. E aqui cabe ressaltar outro feito interessante da série: destacar atrizes negras para papéis relevantes, como Lucienne, Rose e Morte (Charles Dance). Ambas oferecem boas atuações, guiadas por um roteiro que destaca atrizes negras, sem criar momentos em que ser negro é o destaque para o personagem.
Sendo a melhor estreia adaptada em meses, Sandman não é só para os fãs da HQ, mas também para quem nada sabe sobre os personagens. Neil Gaiman e sua equipe entregam a melhor adaptação possível de uma das histórias mais interessantes do universo geek.
https://www.youtube.com/watch?v=fUg4xE-7LyM