Já acumulei algumas boas horas de jogatina. Já finalizai o jogo e tive alguns romances. já passei raiva com uns bugs e com a jogabilidade estranha do jogo. Já me impressionei com o cenário e com a ambientação cyberfuturista. Depois de tudo isso, resolvi trazer minha impressão do jogo como um fanático da cultura cyberpunk.
Uma das primeiras coisa que eu tenho que mencionar é a ambientação. O jogo é magnífico – mesmo com os defeitos das versões PS4/XONE base – e rico em detalhes. Alguns prédios tem detalhes lindos e o ambiente externo é composto por detalhes que passam despercebidos se você não parar para admirar, como os cartazes de bandas e alguns cartazes rasgados com referências à história do universo de Cyberpunk 2077.
E mesmo com a ambientação extremamente rica, o cenário é incômodo, as ruas são coloridas, horríveis e enjoativas. Criando uma sensação de mundo feito de plástico, principalmente as ruas vermelhas. A composição de mundo pós-tecnologia é forçada, alguns lugares parecem que juntaram algumas peças de computadores velhos e plástico derretido; um visual forçado e patético. Junto ao visual urbano desagradável, os personagens/NPCs são horrendos, não os principais, como a Judy ou a Panam, mas os secundários, principalmente os NPCs que ficam perambulando pelas ruas, esses são os piores, são coloridos em demasia, são todos robóticos (tanto no comportamento, quanto no aspecto de design) que conseguem quebrar o encanto de qualquer coisa cyberpunk dentro do game.
A proposta de imersão dentro do ambiente geral do jogo é desagradável, a estética é forçada e quando olhamos em 360° percebemos que os desenvolvedores atiraram para todos os lados na questão estética. Entretanto, quando estamos nos interiores de qualquer prédio somos levados para outro mundo. Todo interior é magnífico, é divertido e instigante. Os bares, lojas e outros comércios são ricos em detalhes e não parecem fazer parte do mesmo jogo. E nesse mix de mundo externo poluído (visualmente) e ambientes internos extravagantemente lindos, o consenso final é de aprovação, a sensação de estar no Sprawl (a megacidade de Neuromancer) é intensa, compensado toda a confusão visual do jogo.
Se a ambientação nos leva direto para o romance de Willian Gibson, a história repete o feito, mas de uma maneira desastrosa, como um labrador correndo contra uma porta fechada, atravessando a porta à força e bagunçando tudo. Se isso pareceu exagerado é porque o limite entre a homenagem e o plágio quase foi ultrapassado, as referências à narrativa de Neuromancer são muitas, em diversos momentos o jogador (se conhecer o livro) se sentirá dentro do universo do livro vivendo uma aventura paralela à trama escrita por Willian Gibson. Isso é incômodo demais, parece que só editaram o livro e adicionaram diálogos para ser a trama principal do jogo. E mesmo assim, a narrativa é maneira, os desdobramentos são interessantes e as missões secundárias são boas, algumas são mais interessantes que a história principal.
O que é estraga-prazer durante a jogatina é a imersão forçada, toda ação precisa de um comando realizado pelo jogador, o que torna o jogo chato. Muitos dos diálogos não precisam que o jogador interaja para que aconteça, é tedioso. Por vezes o jogador vai querer só ver o jogo se desenrolar em cut scenes pré-definidas, mas isso não acontece, criando uma imersão chata e maçante, estragando a experiência do jogador dentro do universo do game.
Por último, a life bar de RPG, que necessita de 500 tiros para matar um NPC. Esse é o fator que aniquila qualquer experiência proveitosa do jogo. Se a proposta é a imersão, qualquer momento de ação quebra isso em mil pedaços. Alguns NPCs são esponjas de tiros, mesmo a CD Project Red dizendo que não faria isso, ela fez. Em uma das missões com a Panam, trocar tiros com os inimigos se torna algo tão chato, você atira, fica sem munição e os inimigos estão lá. Nas primeiras horas de jogo isso é tão recorrente, que rejogar o game é infernal no recomeço, até conseguir armas melhores e níveis mais altos.
Se Cyberpunk 2077 é uma boa experiência cyberpunk? A resposta é sim, os elementos gerais do jogo são bons, a história e a jogabilidade vão se tornando mais palatáveis à medida que jogamos. Os momentos finais da história principal são lindos e até introspectivos. Se eu pudesse aconselhar todos os fãs de cyberpunk quando fossem jogar pela primeira vez, eu diria: deixe sua imaginação te guiar e jogue com intervalo de dias, a ausência do jogo fará a experiência interessante e toda vez que for visitar Night City, a diversão será garantida.