Para o Titã Louco, Thanos, o universo deveria funcionar em perfeita harmonia, como em uma balança com os dois lados equilibrados, e ele não está sozinho nisso, o cinema estadunidense pensa do mesmo jeito e agora tem o seu queridinho coreano para chamar de seu. Depois do sucesso de Parasita (Bong Joon-ho, 2019), filme sul-coreano que levou a estatueta de melhor filme no Oscar, o cinema estadunidense nos oferece seu contrapeso ao filme de Bong: Minari (Lee Isaac Chung, 2021), filme falado em coreano e que é o oposto de Parasita, mas que segue seu caminho de sucesso entre os críticos.
Parasita, 2019/ Minari, 2021
Enquanto Parasita nos apresenta uma crítica social, que em parte é uma paródia da própria sociedade sul-coreana, com cenas tensas e um final sangrento, Minari nos mostra uma experiência íntima e introspectiva. Enquanto Parasita nos leva as diferentes realidades das famílias sul-coreanas, em Minari acompanhamos uma família sul-coreana em uma realidade muito diferente.
Lee Isaac Chung exibe uma obra autobiográfica, recontando sua infância no Arkansas nos anos 1980. Na trama o garoto David (Alan Kim, de 7 anos e com alguns prêmios na bagagem), a irmã Anne (Noel Cho), a mãe Monica (Yeri Han) e o pai Jacob (Steven Yeun, o Glenn de The Walking Dead) se mudam para o Arkansas, nos Estado Unidos, para tentar o sonho americano, enfrentando o novo lar e as novas versões de cada um.
Minari é uma experiência reflexiva, não é só um filme sobre a infância de um garoto estrangeiro, é sobre pessoas se autodescobrindo enquanto descobrem o mundo e o filme esfrega isso na nossa cara a todo momento, mas o clímax acontece quando a personagem da avó chega da Coreia do Sul para ajudar a família, trazendo em sua bagagem sementes de minari, uma erva usada em temperos, que a avó carrega na esperança de vingar em outros solos; soando quase como um ato poético de resistência cultural, por parte da avó, que por vezes é resgatado no filme como um tapa na nossa cara, como quando David espera que a avó asse biscoitos ou faça panquecas, como as avós americanas fazem, e não é isso que acontece.
Youn Yuh-jung em Minari
A mãe insatisfeita com a vida nova; o pai, doente, vivendo o sonho americano enquanto ignora a realidade; as crianças, confusas e frustradas, em meio a vida americana e a tradição sul-coreana e a avó (Youn Yuh-jung) sendo a encarregada de nos emocionar e de injetar vida na família. Apesar do palco simples, a vastidão dos campos do Arkansas, Minari é um filme de camadas, nada simplesmente é ou acontece; se Parasita é a cor vermelha, Minari é o azul, se Parasita é destruição, Minari é construção, se Parasita é ódio, Minari é amor.
Despertar emoção e nos levar para tempos mais simples é só parte da obra de Lee, Minari é uma carta de amor aos que se ariscaram a viver o sonho americano, com personagens bem construídos e atuações que fogem de estereótipos asiáticos, Minari já foi indicado a diversas premiações, entre elas o Globo de ouro, especula-se que será um grande concorrente ao Oscar.
Minari estreará em breve, aqui no Brasil com o título: Minari – em busca da felicidade.