Imagine uma pessoa que não conhece a história de Mortal kombat, seja a história clássica ou o reboot (do MK9), parte do filme de 2021 foi feito para essa pessoa, outra parte feita para quem queria ver como seria uma adaptação (sem ligar muito para a história, só queria ver pancadaria e uns fatalities) e uma parte do filme foi feito para as pessoas que desacreditavam na adaptação. Talvez essa seja a melhor definição do que esperar do filme, pois ele agrada a esses três públicos.
Talvez o nome que mais se destaca é o do produtor James Wan, de Invocação do mal (2013), já que os atores são poucos ou nada conhecidos pelo público, por um lado isso é bom, pois não existe uma expectativa de boa ou má interpretação ou se o ator escalado é melhor para o personagem ou não. Por outro lado esses atores, por serem desconhecidos, oferecem algo bom: eles são artistas marciais. Se nas interpretações a sensação de amadorismo impera, nas cenas de luta isso não existe, apenas a luta contra Goro tem um ar de estranheza (afinal ele tem 4 braços), as demais lutas são fantásticas, não deixam transparecer que são coreografias, parece que são artistas marciais se apresentando para o público.
Os destaques aqui vão para os efeitos especiais durante os fatalities, capricharam no gore, e apenas uma luta termina sem fatality – e justamente a luta que o espectador espera um fatality. Fora os efeitos especiais, os cortes de câmera são bons e não deixam a ação parecendo um “Jason Bourne” brigando, as lutas são nítidas, novamente graças aos atores.
Se o filme peca é na história, a trama fica dividida entre Sub-Zero vs Scorpion e a lore principal do mortal Kombat, o combate entre os mundos para ver quem fica no controle (muito parecido com a trama dos jogos da Midway/Netherrealm). No geral, a trama só está lá para servir de desculpa para a porradaria, mas deixa no final um cliffhanger perfeito para uma continuação, anunciando até a participação de Johnny Cage, que não está presente nesse filme.
Quando estamos vendo adaptações de jogos famosos, esperamos ver uma customização que seja próxima ao personagem do game, em Mortal Kombat apenas Kano fica devendo isso (ele mais parece com o Jimmy London do Matanza do que com Kano de MK), mas os outros personagens são extremamente agradáveis aos olhos, flertando entre um cosplayer e um figurino profissional (talvez isso seja a cereja do bolo). O mais impressionante seja Max Huang, o Kung Lao, seu figurino é excelente, assim como Hiroyuki Sanada, o Scorpion – que lembra muito o Scorpior de MK11.
O filme tem um roteiro fraco, mas, com alguma criatividade, é até explicado como os humanos têm poderes e porque eles são os escolhidos. E falando em escolhido, a escolha de um novo personagem para o papel principal é interessante, mas é aquele espinho no dedão do pé, que incomoda as vezes, Cole (Lewis Tam) é sem sal, ele aceita fácil o papel de escolhido e pula diversas etapas da jornada do herói, mas no combate ele é bom, não decepciona e até impressiona. Talvez Mortal Kombat seja a adaptação perfeita dos jogos de luta, tem um enredo que justifica a violência e tem muita ação bem executada, se comparado aos filmes anteriores, MK de 2021 é excelente, para ser melhor só se fosse uma série, pois a história, os atores e o desenvolvimento de tudo combina mais com uma série.