Relatos do Mundo/Divulgação
O veterano Tom Hanks e a atriz mirim de apenas 12 anos Helena Zengel se unem nesse road movie que se passa num Estados Unidos (especificamente no Texas) do século XIX. Kidd (Hanks) é um veterano de guerra que viaja de cidade em cidade e trabalha lendo os relatos das cidades vizinhas por centavos. Numa terra onde estrangeiros e índios são massacrados, o protagonista aceita o desafio de levar uma criança chamada Johanna (Zengel) de origem desconhecida e que fala um dialeto indígena de volta à sua família.
O comportamento hostil e a maturação da criança e a jornada de redenção do herói veterano tentam suprir a carga dramática proposta pelo roteiro. Entretanto, o roteiro visita muito superficialmente várias outras questões sociais, onde não consegue sustentar sua estrutura narrativa de abordá-los através de analogias. O foco fica na atuação brilhante de Hanks, entretanto, a história de vida e adaptação de Johanna numa sociedade que não hesitaria em exterminá-la fica em segundo plano, ofuscando também o potencial da atriz. A ambientação e caracterização encantam, ajudando também na superação de desafios de roteiro pontuais, mas os diálogos são fracos e pouco auxiliam no desenvolvimento da trama.
Os destinos dos personagens se assemelham, facilitando para o roteiro cruzar as conclusões de suas jornadas, uma estratégia preguiçosa para uma produção tão ousada e grandiosa. A estratégia poderia facilmente ter lançado mão do passado não explorado de Kidd, pois não sabemos qual postura ele adota na sociedade eugenista, sabemos apenas que ele é um capitão que traz cicatrizes do passado e encontra na criança uma forma de se reaver com débitos afetivos passados. Quanto à criança, somos cativados pelo amadurecimento e pela relação paterna que desenvolve com Kidd, mas o roteiro também peca por deixar tão abstratas e desconhecidas as causas pelas quais se encontra naquela situação. Fica o sentimento de que se aprofundar um passo a mais nessa personagem seria se comprometer demais com questões que o filme não consegue abordar.
O filme da Netflix é divertido, bem produzido e traz atuações de primeira (quem é fã de Tom Hanks tem que assistir), mas não dá conta de abordar tantas problemáticas que, mesmo sem querer, apresenta. Um bom passatempo que não permanece na memória.